- Descrição
- -Eletroencefalograma
- Testes de estimulação e indução
- Causas
- Doenças relacionadas
- Epilepsia e disritmia cerebral
- Referências
O termo disritmia cerebral foi muito usado na década de 60 do século 20 para se referir às alterações no eletroencefalograma que alguns pacientes apresentavam, principalmente aqueles com epilepsia.
Com o passar do tempo, o termo caiu em desuso para dar lugar a termos novos, mais específicos e descritivos, visto que a palavra "disritmia" era muito geral e inespecífica; pior ainda, em alguns casos podem ocorrer alterações do ritmo cerebral basal no EEG sem sinais clínicos óbvios.
Fonte: Antoine Lutz
Assim, o termo disritmia cerebral, que durante décadas foi sinônimo de alteração do ritmo de base cerebral sem claro significado clínico, foi abandonado.
Porém, com o advento de novas tecnologias, a ampliação do leque de diagnósticos e estudos neurofisiológicos específicos, o termo disritmia cerebral foi retomado para explicar certas condições, sintomas e até comportamentos que até hoje eram classificados como "idiopáticos" (sem causa aparente).
Essa nova ascensão do termo disritmia cerebral tem ecoado na mídia digital, onde abundam informações sobre o assunto, embora nem sempre da melhor qualidade; Por outro lado, ainda existe controvérsia entre os especialistas sobre a relevância ou não do uso desse termo, que não é usado rotineiramente por grande parte da comunidade médica.
Descrição
A disritmia cerebral é um termo aplicado a um traçado anormal do EEG, que consiste em uma mudança do ritmo normal, mas com um padrão inconsistente.
Isso significa que às vezes o ritmo cerebral básico pode ser normal, enquanto em outras pode ser alterado.
O problema surge quando a disritmia está correlacionada com achados clínicos, uma vez que em muitos casos o traçado anormal do EEG não está associado a mudanças clínicas óbvias.
Da mesma forma, pode ser o caso de pessoas com sinais e sintomas clínicos óbvios (como uma crise tônico-clônica devido à epilepsia) com um eletroencefalograma normal, portanto, o uso do termo permanece controverso e ainda está em estudo se for a aplicação em termos de diagnóstico é adequada ou não.
Para entender um pouco mais sobre as mudanças no traçado do EEG, é pertinente lembrar alguns conceitos básicos.
-Eletroencefalograma
O eletroencefalograma é um método diagnóstico que surgiu no final da década de 1920. Consiste em registrar a atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos colocados no couro cabeludo.
Este estudo gera o que é conhecido como ritmo de base, que é composto por quatro padrões de onda principais:
- Ritmo alfa com ondas que oscilam entre 8 e 13 Hz
- Ritmo beta com ondas que oscilam entre 14 e 60 Hz
- Ritmo delta com ondas que oscilam entre 0 e 4 Hz
- Ritmo Teta com ondas que oscilam entre 4 e 7 Hz
Esses padrões são registrados em repouso, com a pessoa acordada e após uma boa noite de sono, sendo comum esperar um padrão normal mesmo em pacientes com epilepsia ou com algum outro transtorno.
Testes de estimulação e indução
Para induzir o aparecimento de padrões anormais no eletroencefalograma, uma vez registrada a atividade basal do cérebro, o paciente é estimulado com vários métodos que vão desde a hiperventilação até a estimulação visual com luzes estroboscópicas, por meio de estímulos sonoros.
O objetivo é desencadear o padrão patológico do cérebro para chegar a um diagnóstico definitivo.
Na maioria dos casos de epilepsia, doença cerebrovascular ou demência, existem padrões claramente definidos que permitem um diagnóstico preciso.
No entanto, num grupo especial de doentes podem ocorrer alterações do ritmo basal do electroencefalograma que não correspondem a nenhum dos padrões de diagnóstico previamente definidos, sendo estes os doentes designados por «disritmia cerebral».
O principal problema nesses casos é determinar até que ponto a disritmia é patológica ou simplesmente um achado incidental sem qualquer significado clínico, especialmente em pacientes assintomáticos.
Causas
As causas da disritmia cerebral não são claramente identificadas, embora algumas situações e condições tenham sido sugeridas nas quais essas alterações transitórias do ritmo de base cerebral podem ocorrer. Uma das mais frequentes é a falta de sono devido ao consumo de certas substâncias psicoativas.
Nesse sentido, o dilema persiste, visto que apesar da associação causal entre disritmia do sono e psicofármacos-disritmia, nem todas as pessoas com esse tipo de traçado anormal no EEG apresentam sintomas.
O que se sabe com certeza é que, por algum motivo, o equilíbrio normal entre os mecanismos de excitação e inibição dos circuitos neurais do cérebro foi perdido; Da mesma forma, há dados que indicam que a disritmia nem sempre é generalizada e que, ao contrário, pode ocorrer em territórios específicos do cérebro sem que haja alterações em outras áreas.
Doenças relacionadas
Embora o termo disritmia cerebral não esteja associado a uma doença específica, alguns estudos clínicos indicam que este tipo de padrão EEG anormal pode ser visto com mais frequência em certas condições clínicas, como:
- Doença cerebrovascular crônica
- Uso de medicamentos e / ou psicofármacos
- Certos tipos de demência
- Epilepsia
De todas elas, a epilepsia é a que mais se estuda e para a qual aponta a maior parte das evidências obtidas em estudos clínicos bem estruturados; entretanto, não é a epilepsia comum com crises tônico-clônicas, bem conhecida por todos.
Epilepsia e disritmia cerebral
A epilepsia generalizada apresenta características clínicas e eletroencefalográficas que permitem um diagnóstico quase inequívoco.
No entanto, a epilepsia em si não é uma doença única, mas uma ampla gama de condições que variam de convulsões focais (Little Mal) a convulsões generalizadas.
Nesse sentido, tem-se a hipótese de que as disritmias cerebrais podem ser um tipo particular de epilepsia que afeta áreas do cérebro não associadas ao movimento ou à consciência.
Assim, foi postulado que a disritmia cerebral poderia ser causada por «epilepsia neurovegetativa», onde a área afetada do cérebro regula as funções autonômicas, de modo que os sintomas não puderam ser claramente identificáveis, pois poderiam ser confundidos com uma síndrome diarreica ou dispéptica banal.
Por outro lado, a disritmia cerebral tem sido associada a personalidades irascíveis e facilmente alteráveis; portanto, o diagnóstico se ajusta a uma série de transtornos psiquiátricos que poderiam encontrar uma explicação nessas alterações do eletroencefalograma.
A verdade é que existe o traço anormal do eletroencefalograma conhecido como disritmia cerebral, seu uso está ganhando força e as pesquisas modernas em neurofisiologia poderiam abrir uma gama insuspeita de diagnósticos até então desconhecidos.
Referências
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