- O problema socrático
- Princípio fundamental de Sócrates: desenvolvimento da dialética
- As principais crenças filosóficas de Sócrates
- Moralidade e virtude
- Política
- Misticismo
- Referências
A filosofia de Sócrates consiste em elementos que se entrelaçam em seus fundamentos mais fundamentais: a ideia do homem "conhecer a si mesmo" - e, portanto, saber qual a boa natureza humana e justa-, e o reconhecimento de ignorância, que abre caminho para a possibilidade de apreensão de novos e mais precisos insights.
Sócrates é sem dúvida um dos maiores filósofos gregos da história e as suas contribuições continuam a ser estudadas devido à importância e particularidade das suas perspectivas, entre as quais é importante referir a busca constante do verdadeiro conhecimento e o método dialético insubstituível.
Sócrates, grande filósofo grego
Porém, nem tudo é tão simples com este relevante filósofo, principalmente pela idade de seus ensinamentos e, em segundo lugar, porque ele nunca escreveu um livro com suas próprias palavras. Isso é chamado de "o problema socrático", que será explicado em detalhes na próxima seção.
O problema socrático
Estudiosos e filósofos concordam que a figura de Sócrates e, conseqüentemente, todo o seu pensamento podem não ter sido inteiramente seus. Sócrates nunca colocou sua filosofia em texto e a única coisa que está escrita sobre ele é produto de seus seguidores, como Platão e Xenofonte.
Muitos pensadores ousam dizer que Platão até colocou seus próprios pensamentos na boca de Sócrates, principalmente nos últimos livros que escreveu. Por causa disso, é muito difícil discernir entre o que seus discípulos pensavam e o que Sócrates realmente defendia e acreditava.
No entanto, é tudo o que se tem de sua filosofia. Por isso, não resta outra opção senão tomá-lo como verdadeiro, tendo sempre presente que, se surgir uma contradição, é provável que tenha vindo de quem a escreveu e não do próprio Sócrates.
Princípio fundamental de Sócrates: desenvolvimento da dialética
O principal princípio filosófico de Sócrates era seu método dialético. Sócrates estudou profundamente tópicos relacionados à cosmologia e outras variantes que o ajudaram a compreender o universo e o mundo em que vivemos.
No entanto, seu desapontamento em relação ao método científico aplicado nessas ciências naturais, aliado à grande rejeição das perspectivas relativistas que os sofistas ensinavam na época, o levaram a decidir buscar o caminho para alcançar definições universais de todas as coisas.
Para Sócrates, as definições essenciais não eram uma questão relativa, então ele gerou um método indutivo por meio do qual se poderia chegar ao verdadeiro conhecimento do mundo e seus elementos. Segundo ele, a verdade era a mesma independente do lugar ou do indivíduo.
Desse modo, ele começa a aplicar o que seria chamado de método socrático. Com isso, Sócrates pretendeu dialogar com amigos e conhecidos, sempre visando alcançar a definição universal.
O método consistia em duas partes: a ironia, por meio da qual o homem percebe sua própria ignorância das coisas; e maiêutica, que consistia em perguntas e respostas cada vez mais específicas até chegar ao conhecimento particular.
Para Sócrates, era extremamente importante que o indivíduo reconhecesse sua própria ignorância, pois sem esse passo não haveria espaço para a verdade.
Depois que a pessoa com quem estava dialogando aceitou sua ignorância sobre um assunto, Sócrates começou a fazer perguntas que seu parceiro respondia por conta própria, determinando cada vez mais o assunto principal.
Sócrates usou esse método dialético pelo resto de sua vida. Isso é evidenciado em quase todos os livros de Platão, que representam seu professor dialogando com vários personagens sobre diferentes temas que ele estava tentando definir.
As principais crenças filosóficas de Sócrates
A Morte de Sócrates de Jacques-Louis David.
Sabendo que a filosofia de Sócrates é difícil de separar das crenças de Platão, certas verdades que Sócrates defendeu podem ser estabelecidas por meio dos textos deste último.
Uma coisa é certa: muitos de seus argumentos e opiniões eram completamente diferentes dos de seus colegas atenienses, tanto na política quanto na moral e na ética.
Sócrates defendeu e divulgou a necessidade dos homens "cuidarem de suas almas" acima das prioridades atuais, que incluíam a preocupação com a carreira, uma família ou mesmo uma jornada política na cidade.
Moralidade e virtude
Para Sócrates, a moralidade era a base da vida do homem. Se o homem soubesse que é bom, belo e justo, não agiria de outra forma senão praticando atos que promulgaram e produziram os resultados dessa linhagem.
Este filósofo grego era conhecido por sua ironia e moralidade, bem como por ter uma clara consciência de sua própria ignorância das questões com as quais lidava. Daí decorre o uso do método dialético, em que sempre era o seu interlocutor quem respondia às suas perguntas.
Desta forma, ele pôde difundir seu conhecimento entre parentes e amigos, com o intuito de estimular suas próprias buscas pela virtude e sabedoria. Da mesma forma, ele acreditava que a verdadeira felicidade vinha de ser moralmente correto; isto é, apenas o homem moral poderia realmente viver uma vida feliz.
Por fim, Sócrates defendeu a ideia de que havia uma natureza humana universal, com valores igualmente universais, que todo homem poderia usar como guia para agir moralmente no dia a dia.
A parte mais importante desta teoria socrática? O desejo e a iniciativa do indivíduo de conhecer essa natureza constante e reta.
Política
Para Sócrates, as idéias e as verdadeiras essências das coisas pertencem a um mundo que só o homem sábio pode alcançar, por isso ele manteve firmemente uma posição segundo a qual o filósofo era o único homem apto a governar.
Se Sócrates concordou ou não com a democracia é uma questão controversa. Embora seja muito claro que Platão criticou essa forma de governo, não é certo que Sócrates pensasse o mesmo: é muito possível que muitas das frases e sentenças que este fez contra a democracia tenham sido produto criativo apenas de Platão.
Misticismo
Outra face importante da filosofia de Sócrates era o misticismo. É sabido que Sócrates praticava adivinhação e que era muito próximo de Diotima, uma sacerdotisa a quem atribui todo o seu conhecimento do amor.
O filósofo também é conhecido por falar sobre religiões misteriosas, reencarnações e até mitos e lendas que podem ser considerados irreais e sem sentido.
Da mesma forma, Sócrates mencionou inúmeras vezes (sempre por meio dos diálogos de Platão) a existência de uma voz ou sinal misterioso que se fez sentir quando ele estava prestes a cometer um erro.
Embora muitos sustentem que esse sinal nada mais era do que a fenomenologia de sua própria intuição, tudo parece sugerir que Sócrates o considerava de origem divina e não dependente de seus pensamentos ou crenças.
Referências
- Vida e pensamento de Sócrates (2001) recuperado de webdianoia.com
- Cohn, Dorrit (2001) Does Sócrates Speak for Platão? Reflexões sobre uma questão aberta. Nova História Literária
- Kamtekar, R. (2009) A Companion to Socrates. John Wiley & Sons
- Vander Waerdt, PA. O movimento socrático. Cornell University Press, 1994
- Hadot, P. (1995) Philosophy as a Way of Life. Oxford, Blackwells
- Navia, Luis E. Sócrates, Man and his Philosophy. University Press of America