- Principais características da teoria orgânica
- Expoentes da teoria orgânica
- Johannes Saresberiensis (João de Salisbury)
- Aristóteles
- Hegel
- Platão
- Marsilio de Padua
- Herbert Spencer
- Referências
A teoria organicista é uma postura filosófica em que o Estado é considerado um organismo vivo que transcende os indivíduos e onde cada um tem uma função a cumprir para que a vida do todo seja possível.
Para os organicistas, a estrutura da sociedade é organizada e funciona como um organismo biológico de natureza superior, com entidade e existência próprias. Dentro dessa teoria, a sociedade é um todo diferente da soma das partes (indivíduos), faz parte da essência do ser humano, mas é anterior a isso.
Ou seja, de acordo com essa escola sociológica, a sociedade humana é uma forma superior de organização biológica e, portanto, para ela, se aplicam as leis da biologia.
Nessa perspectiva, os indivíduos são como as células de um organismo que, sempre dependendo de sua vida, desempenham diferentes funções. O organicismo também é chamado de bio-organicismo no campo da sociologia e se opõe ao mecanicismo.
A concepção orgânica de sociedade dominou grande parte da Idade Média, e foi superada com o surgimento do individualismo decorrente da institucionalização do contrato, parte do direito privado que justifica a fundação do Estado.
No entanto, ela ressurge no início do século 19, envolta na atmosfera da Revolução Francesa, e ainda hoje há reminiscências dessa concepção em alguns países do mundo.
Principais características da teoria orgânica
Algumas das características que melhor descrevem a teoria orgânica são:
- A sociedade é um organismo vivo com características especiais que obedece, como organismo vivo, às leis da biologia.
- Os governantes têm como missão principal preservar a unidade do todo. Essa unidade só é possível com a concórdia.
- Como consequência do exposto, a discórdia é o pior mal de uma sociedade.
- O surgimento ou desenvolvimento de facções que possam enfraquecer o Estado deve ser evitado a todo custo.
- O governo tem, no campo político, a mesma função que o coração tem no corpo humano.
- Um modelo de sociedade orgânica por excelência é a família.
- Os regimes monárquicos atendem a essa concepção de sociedade.
Expoentes da teoria orgânica
Ao longo dos anos, a história viu filósofos e sociólogos que apoiaram a teoria organicista da sociedade. As linhas a seguir tentam refletir a contribuição de alguns deles:
Johannes Saresberiensis (João de Salisbury)
Ele escreveu Policraticus, antes da obra de Aristóteles, Política, e nesse texto ele compara o corpo social com o corpo humano de uma forma muito detalhada:
- Rei = a cabeça
- Senado = o coração
- Juízes e funcionários públicos = olhos, ouvidos e língua.
- Os militares = as mãos
- Os camponeses = os pés
A essência de seu trabalho inspira o Leviatã de Hobbes e influencia o pensamento dos sociólogos Spencer e Schaffle.
Aristóteles
Aristóteles afirmou que o homem é um animal social e que só é homem, em seu sentido pleno, quando vive na polis. Para ele, assim como a parte mais nobre do animal é o coração, na alma do corpo social o governo é a parte mais perfeita.
Da mesma forma, postulou que no Estado, neste todo composto, cada uma de suas partes cumpre uma função específica. E também estabeleceu que "a cidade é por natureza anterior ao indivíduo".
Hegel
Hegel também afirma em seu tempo e ambiente, uma visão organicista do Estado.
Platão
Este pensador, em sua famosa obra A República, expande uma analogia entre as partes da alma e as do Estado.
Para Platão, a justiça se expressa quando cada parte da comunidade cumpre o que lhe corresponde, para garantir a harmonia do todo "sem interferir no que diz respeito aos outros".
Marsilio de Padua
No Defensor pacis ele defende que uma cidade bem constituída, necessária e naturalmente, se assemelha a um animal “bem disposto”.
Da mesma forma, e fiel aos postulados aristotélicos, ele propõe que o Estado surge em uma sociedade imitando como o animal se origina na natureza.
E conclui: “a relação entre a cidade e as suas partes, assim como a tranquilidade, parecerá semelhante à relação que existe entre o animal, as suas partes e a saúde”.
Herbert Spencer
Sociólogo moderno que propagou e defendeu uma concepção organicista do Estado, o que implica uma analogia com a teoria da evolução, a saber:
- A sociedade e os organismos experimentam um crescimento progressivo ao longo de sua existência.
- O crescimento das sociedades e dos organismos implica um aumento de sua complexidade e estrutura.
- As funções das sociedades e dos organismos também se tornam mais complexas com o tempo.
- A sociedade é composta de outros elementos, assim como um organismo é composto de várias unidades.
No entanto, ele também notou diferenças:
- Enquanto os organismos são compostos de unidades dependentes, nas sociedades essas unidades são gratuitas.
- A consciência de um organismo é única, enquanto na sociedade é tão diversa quanto os indivíduos que a compõem.
- O fim das unidades que compõem o organismo é o seu benefício, enquanto na sociedade acontece o contrário: o objetivo é o bem-estar dos indivíduos.
Aos poucos, Spencer rompe com essa concepção organicista.
Na verdade, hoje, as teorias sociológicas não comparam os organismos com a sociedade, mas sim os dois com um sistema.
As teorias organicistas derivam da ideia de poder descendente, onde um único governante, o governo de uma única pessoa, é vital, porque somente a unidade da liderança garante a unidade do todo.
Por isso, na Idade Média, época áurea dessa concepção, os sistemas reinantes eram a Igreja e o Império, concebidos monocraticamente.
Como dito no início, esta ideia organicista persiste nesta área em algumas latitudes onde prevalecem os sistemas monárquicos ou ditatoriais.
Referências
- Bobbio, Norberto. Organicismo e individualismo. Conferência Inaugural do Congresso Individual-Coletivo. O problema da racionalidade na política, economia e filosofia. Tradução: José Fernández Santillán. Recuperado de: www. file.estepais.com
- Borja, Rodrigo (s / f). Organicismo Recuperado de encyclopediadelapolitica.org
- Filosofia em espanhol (2015). Teoria organicista. Recuperado de Philosophy.org
- Sociologicus (2001). Spencer. Recuperado de sociologicus.com
- Villalva, M. (2004). Apresentação: Organicista Herbert Spencer. Reis, (107), 227-230.
- Webdianoia (s / f). Organicism in Glossary of Philosophy. Recuperado de webdianoia.com.