- Conceitos importantes
- Fração inspirada de oxigênio
- Saturação de O2
- Mudança da pressão parcial de oxigênio com a altitude
- Exemplo
- Hipoxia
- Diagnóstico de hipóxia
- Oximetria de pulso
- Gases arteriais
- Causas de hipoxia
- Técnica de oxigenoterapia
- Processo
- Tipos
- Oxigenoterapia em pediatria
- Oxigenoterapia hiperbárica
- Dispositivos de oxigenoterapia
- Cuidados de enfermagem
- Referências
A oxigenoterapia envolve a administração de oxigênio (02) aos pacientes para fins terapêuticos, a fim de manter níveis adequados de oxigênio ao nível dos tecidos. Pode ser administrado em todos os casos em que o paciente não consegue manter a saturação de O2 adequada sozinho.
A oxigenoterapia pode ser administrada em casos de dificuldade respiratória, durante procedimentos cirúrgicos durante os quais o paciente não consegue respirar por conta própria, ou em casos de traumas graves ou envenenamento, para garantir a máxima distribuição de oxigênio aos tecidos.
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A oxigenoterapia é um procedimento médico e, como tal, deve ser administrada por pessoal qualificado. O oxigênio utilizado neste tratamento é considerado um medicamento, por isso está sujeito a regulamentações rígidas.
Nesse sentido, existem várias técnicas, materiais e procedimentos, que os profissionais de saúde responsáveis pela administração desta medida terapêutica devem conhecer.
Da mesma forma, é imprescindível conhecer em detalhes os princípios fisiológicos que embasam a administração terapêutica de oxigênio, pois, de outra forma, não é possível realizar os cálculos necessários para garantir um fornecimento adequado desse gás.
Conceitos importantes
Fração inspirada de oxigênio
O primeiro conceito que deve ser trabalhado no campo da oxigenoterapia é o da fração inspirada de oxigênio, uma vez que esse parâmetro é modificado com a administração de O2 por qualquer um dos métodos disponíveis.
A fração inspirada de oxigênio (Fi02) é entendida como a quantidade de O2 que entra nas vias aéreas a cada inspiração.
Em condições padrão normais (respirando ar ambiente, ao nível do mar e com temperatura média de 27 ºC) a FiO2 é de 21%, o que representa uma pressão parcial de oxigênio de 160 mmHg ou 96 kPa.
Em indivíduos saudáveis, a pressão e a quantidade de oxigênio são suficientes para atingir uma saturação de O2 entre 95 e 100%. Isso nos leva ao segundo parâmetro importante: saturação de oxigênio no sangue.
Saturação de O2
O oxigênio circula no sangue ligado a uma molécula carreadora conhecida como hemoglobina (Hb), que representa mais de 50% do conteúdo dos glóbulos vermelhos.
Essa proteína tem a capacidade de acomodar o oxigênio em seu interior, aumentando a capacidade de transporte de O2 no sangue bem acima do que ele poderia transportar se esse gás apenas se dissolvesse nele.
Geralmente, o sangue arterial tem uma saturação de oxigênio que varia entre 95 e 100%; isto é, praticamente todas as moléculas de Hb carregam sua carga total de oxigênio.
Em condições ambientais anormais ou devido a condições patológicas particulares, a porcentagem de moléculas de Hb que transportam O2 pode diminuir, ou seja, a saturação de O2 no sangue diminui.
Para evitar isso (ou corrigir se já aconteceu), às vezes é necessário oxigênio suplementar.
Mudança da pressão parcial de oxigênio com a altitude
Conforme mencionado acima, a pressão parcial inspirada de oxigênio é calculada com um modelo padrão ao nível do mar. No entanto, o que acontece quando a altitude muda?
Bem, até 10.000 metros de altura a composição do ar quase não varia. Portanto, cada litro de ar ambiente conterá:
- 21% de oxigênio.
- 78% de nitrogênio.
- 1% de outros gases (dos quais o CO2 é o mais abundante).
No entanto, conforme a pressão atmosférica aumenta, o mesmo ocorre com a pressão inspirada de oxigênio. Isso pode ser melhor visualizado com um exemplo.
Exemplo
Ao nível do mar, a pressão atmosférica é de 760 mmHg e a quantidade de oxigênio é de 21%; portanto, a pressão de oxigênio inspirado é 760 x 21/100 = 160 mmHg
Quando você sobe 3.000 metros acima do nível do mar, a quantidade de oxigênio no ar permanece a mesma (21%), mas agora a pressão atmosférica caiu para cerca de 532 mmHg.
Agora, aplicando a fórmula: 532 x 21/100 obtemos uma pressão inspirada de oxigênio muito mais baixa, em torno de 112 mmHg.
Com essa pressão de oxigênio, a troca gasosa no pulmão é menos eficiente (a menos que o indivíduo esteja aclimatado) e, portanto, a saturação de O2 no sangue tende a diminuir um pouco.
Se esse declínio for severo o suficiente para comprometer o fornecimento de oxigênio suficiente para o bom funcionamento dos tecidos, diz-se que a pessoa sofre de hipóxia.
Hipoxia
Hipóxia é entendida como a diminuição da saturação de O2 no sangue abaixo de 90%. Nos casos em que o valor cai abaixo de 80%, é referido como hipóxia grave.
A hipóxia implica um risco vital para o paciente, pois à medida que diminui a saturação de O2, o suprimento de oxigênio aos tecidos fica comprometido. Se isso acontecer, eles podem parar de funcionar, já que o oxigênio é essencial para as funções metabólicas celulares.
Daí a importância de garantir uma saturação adequada que, por sua vez, garanta um ótimo suprimento de oxigênio aos tecidos.
Diagnóstico de hipóxia
Existem vários métodos para diagnosticar a hipóxia e, ao contrário do que costuma acontecer, os sinais clínicos são frequentemente os menos precisos. Isso ocorre porque eles geralmente se apresentam apenas com hipóxia grave.
No entanto, é fundamental conhecê-los, pois dão uma ideia clara da gravidade da situação e, sobretudo, da eficácia da oxigenoterapia.
A hipóxia é clinicamente caracterizada por:
- Taquipneia (aumento da frequência respiratória).
- Utilização de músculos acessórios da respiração (sintoma inespecífico, pois pode haver dificuldade respiratória sem evoluir para hipóxia).
- Alteração do estado de consciência.
- Cianose (coloração arroxeada das unhas, mucosas e até da pele em casos muito graves).
Para uma determinação mais precisa da hipóxia, existem ferramentas de diagnóstico, como oximetria de pulso e medição de gás arterial.
Oximetria de pulso
A oximetria de pulso permite a determinação da saturação de O2 no sangue por meio de um aparelho capaz de medir a absorção da luz vermelha e infravermelha pelo sangue que passa pelos capilares da pele.
É um procedimento não invasivo que permite a determinação do nível de saturação da hemoglobina em poucos segundos e com considerável precisão. Isso, por sua vez, dá ao pessoal de saúde a capacidade de fazer ajustes na terapia de oxigênio em tempo real.
Gases arteriais
Por sua vez, a medição dos gases arteriais é um procedimento mais invasivo, pois uma amostra de sangue arterial do paciente deve ser extraída por punção. Este será analisado em um equipamento especial capaz de determinar com grande precisão não só a saturação de O2, mas também a pressão parcial de oxigênio, a concentração de CO2 no sangue e vários outros parâmetros de utilidade clínica.
A vantagem da gasometria arterial é a ampla variedade de dados que fornece. Porém, há um atraso de 5 a 10 minutos entre o momento da coleta da amostra e o relato dos resultados.
É por isso que a medição dos gases arteriais é complementada com a oximetria de pulso para se ter uma visão global e ao mesmo tempo em tempo real do estado de oxigenação do paciente.
Causas de hipoxia
As causas da hipóxia são múltiplas e, embora em cada caso deva ser instituído um tratamento específico para correção do fator etiológico, o oxigênio deve ser sempre administrado para o suporte inicial do paciente.
Entre as causas mais comuns de hipóxia estão as seguintes:
- Viajar para áreas com altitude superior a 3.000 metros acima do nível do mar sem período prévio de aclimatação.
- Dificuldade respiratória.
- Intoxicações (monóxido de carbono, envenenamento por cianeto).
- Intoxicação (cianeto).
- Desconforto respiratório (pneumonia, bronquite crônica, doença broncopulmonar obstrutiva crônica, doença cardíaca, etc).
- Miastenia gravis (devido à paralisia dos músculos respiratórios).
Em cada caso será necessário administrar oxigênio. O tipo de procedimento, fluxo e outros detalhes dependerão de cada caso em particular, bem como da resposta ao tratamento inicial.
Técnica de oxigenoterapia
A técnica da oxigenoterapia dependerá da condição clínica do paciente, bem como de sua capacidade de ventilar espontaneamente.
Nos casos em que a pessoa consegue respirar, mas não consegue manter sozinha uma saturação de O2 acima de 90%, a técnica da oxigenoterapia consiste em enriquecer o ar inspirado com oxigênio; ou seja, aumente a porcentagem de O2 em cada inspiração.
Por outro lado, nos casos em que o paciente não consegue respirar sozinho, é necessário conectá-lo a um sistema de ventilação assistida, seja manual (ambu) ou mecânico (máquina de anestesia, ventilador mecânico).
Em ambos os casos, o sistema de ventilação é conectado a um sistema que fornece oxigênio, para que a FiO2 a ser administrada possa ser calculada com precisão.
Processo
O procedimento inicial consiste na avaliação das condições clínicas do paciente, incluindo a saturação de oxigênio. Feito isso, o tipo de oxigenoterapia a ser implementado é decidido.
Nos casos em que o paciente respira espontaneamente, pode-se escolher um dos vários tipos disponíveis (bigode nasal, máscara com ou sem reservatório, sistemas de alto fluxo). A área é então preparada e o sistema é colocado no paciente.
Quando houver necessidade de assistência ventilatória, o procedimento sempre se inicia com ventilação manual (ambu) por meio de máscara ajustável. Uma vez que a saturação de O2 de 100% é atingida, a intubação orotraqueal é realizada.
Uma vez que as vias aéreas estejam protegidas, a ventilação manual pode ser continuada ou o paciente conectado a um sistema de suporte ventilatório.
Tipos
Em hospitais, o oxigênio administrado aos pacientes geralmente vem de cilindros pressurizados ou tomadas de parede conectadas a um suprimento central de gases medicinais.
Em ambos os casos, é necessário um dispositivo umidificador para evitar danos às vias aéreas devido ao oxigênio seco.
Depois que o gás se mistura com a água no copo do umidificador, ele é fornecido ao paciente por meio de uma cânula nasal (conhecida como bigode), uma máscara facial ou uma máscara de reservatório. O tipo de dispositivo de entrega dependerá da FiO2 a ser alcançada.
Em geral, uma FiO2 máxima de 30% pode ser alcançada com a cânula nasal. Já com a máscara simples, a FiO2 chega a 50%, enquanto com a máscara com reservatório, até 80% da FiO2 pode ser atingida.
No caso de equipamentos de ventilação mecânica, existem botões ou botões de configuração que permitem que a FiO2 seja ajustada diretamente no ventilador.
Oxigenoterapia em pediatria
No caso de pacientes pediátricos, especialmente em neonatologia e com bebês pequenos, é necessário o uso de dispositivos especiais conhecidos como capelas de oxigênio.
Nada mais são do que pequenas caixas de acrílico que cobrem a cabeça do bebê deitado, enquanto a mistura de ar e oxigênio é nebulizada. Essa técnica é menos invasiva e permite monitorar o bebê, o que seria mais difícil de fazer com a máscara.
Oxigenoterapia hiperbárica
Embora 90% dos casos de oxigenoterapia sejam normobáricos (com a pressão atmosférica do local onde o paciente se encontra), às vezes é necessário aplicar oxigenoterapia hiperbárica, principalmente nos casos de mergulhadores que sofreram descompressão.
Nesses casos, o paciente é internado em câmara hiperbárica, capaz de aumentar a pressão para 2, 3 ou mais vezes a pressão atmosférica.
Enquanto o paciente está nessa câmara (geralmente acompanhado por uma enfermeira), o O2 é administrado por uma máscara ou cânula nasal.
Dessa forma, a pressão inspirada de O2 é aumentada não apenas pelo aumento da FiO2, mas também pela pressão.
Dispositivos de oxigenoterapia
Os dispositivos de oxigenoterapia são projetados para serem usados por pacientes ambulatoriais. Embora a maioria dos pacientes consiga respirar o ar ambiente normalmente depois de se recuperar, um pequeno grupo precisará de O2 de forma consistente.
Para esses casos, existem pequenos cilindros com O2 pressurizado. No entanto, sua autonomia é limitada, de modo que dispositivos que "concentram oxigênio" costumam ser usados em casa e depois administrados ao paciente.
Como o manuseio de cilindros de oxigênio pressurizado é complexo e caro em casa, os pacientes que necessitam de oxigenoterapia crônica e sustentada se beneficiam desse equipamento capaz de captar o ar ambiente, eliminando parte do nitrogênio e demais gases para oferecer um "ar" com concentrações de oxigênio maiores que 21%.
Dessa forma, é possível aumentar a FiO2 sem a necessidade de suprimento externo de oxigênio.
Cuidados de enfermagem
Os cuidados de enfermagem são fundamentais para a correta administração da oxigenoterapia. Nesse sentido, é imprescindível que a equipe de enfermagem garanta o seguinte:
- Cânulas, máscaras, tubos ou qualquer outro dispositivo de administração de O2 devem ser posicionados corretamente sobre as vias aéreas do paciente.
- Os litros por minuto de O2 no regulador devem ser os indicados pelo médico.
- Não deve haver torções ou dobras nos tubos que transportam O2.
- Os copos umidificadores devem conter a quantidade necessária de água.
- Os elementos do sistema de fornecimento de oxigênio não devem ser contaminados.
- Os parâmetros de ventilação dos ventiladores (quando utilizados) devem ser adequados de acordo com as indicações médicas.
Além disso, a saturação de oxigênio do paciente deve ser monitorada em todos os momentos, pois é o principal indicador do efeito da oxigenoterapia no paciente.
Referências
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