- Principais argumentos da teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig
- Origem desconhecida da cultura Chavín
- Falta de evidências sobre a origem da cultura Chavín na selva
- Disparidade de datas entre o Formativo Mesoamericano e o Andino
- A domesticação do milho
- Elementos estranhos no mundo andino pré-cerâmico
- Uma nova abordagem para a teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig
- Referências
A teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig consistia em uma explicação alternativa à teoria oficial sobre a origem da cultura andina. De acordo com este antropólogo peruano, as origens remotas da alta cultura peruana estavam localizadas além das fronteiras do atual Peru. Especificamente, apontou a cidade costeira equatoriana de Valdivia como o centro original.
Nesse sentido, a teoria aloctonista se contrapõe à autóctone. Este último proclamou que a cultura peruana era indígena, tendo começado com a cultura Chavin.
A autóctone foi a hipótese mais aceita, mas que foi refutada por Federico Kauffmann Doig. Para este antropólogo, os centros de alta cultura no México, Peru e Bolívia não surgiram de forma espontânea e independente. Elas viriam de um núcleo comum que mais tarde se espalharia.
No início, Kauffmann Doig expõe sua teoria sobre o aloctonismo em sua obra Origen de la Cultura Peruana de 1963. Nele, ele argumenta que a difusão da cultura olmeca pode ter dado origem à civilização Chavín.
Após alguns estudos realizados por vários arqueólogos na costa equatoriana na década de 1970, a teoria aloctonista foi reformulada. Valdivia foi então criado como o foco inicial do qual a cultura se irradiou para o México e o Peru.
Principais argumentos da teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig
Origem desconhecida da cultura Chavín
Um dos principais argumentos sobre os quais se baseou a teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig foi a origem da cultura Chavín. Esta civilização se desenvolveu durante o período da Formação Tardia nas terras altas da região centro-norte.
Era caracterizado por um estilo artístico exótico. O seu nome deve-se ao sítio arqueológico Chavín de Huántar, descoberto por Julio Tello em 1920. No local foram encontradas esculturas e cerâmicas típicas deste estilo.
Por muito tempo, esta foi considerada a primeira manifestação da civilização na área andina. Descobertas recentes descartaram essa possibilidade.
Porém, Kauffmann Doig pensava que nas terras peruanas não havia elementos que explicassem a transição para o florescimento dessa cultura. A diferença entre a cerâmica deste período e as anteriores era óbvia. Portanto, localizou sua origem fora desse território.
Falta de evidências sobre a origem da cultura Chavín na selva
Julio Tello, considerado um dos pais da arqueologia peruana, supôs que a civilização Chavín veio da Amazônia. Suas conclusões foram derivadas das representações na arte de várias espécies da selva, como a onça, a sucuri ou a águia.
Nesse sentido, a teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig rejeitou essas conclusões. Este arqueólogo considerou que o argumento não tinha a força necessária.
Além disso, como outros especialistas também apontaram, as águias e os falcões são tipicamente andinos e não da selva. Essas aves aparecem com muita frequência na arte Chavín.
Disparidade de datas entre o Formativo Mesoamericano e o Andino
Na época em que a teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig é proposta, as civilizações Olmeca e Chavín eram consideradas as culturas-mãe da Mesoamérica e dos Andes, respectivamente. A evidência sugere que ambos foram baseados em idéias religiosas e cosmológicas praticamente idênticas.
No entanto, os dados disponíveis na época sustentavam que o período formativo mesoamericano era muito mais antigo que o andino. Isso foi baseado nas características particulares de suas cerâmicas. Portanto, era mais lógico supor que a cultura olmeca havia se espalhado para o território andino.
A domesticação do milho
O principal cereal do continente americano, o milho, foi domesticado pela primeira vez no Vale do Tehuacán, no México. Isso ocorreria no ano 8000 a. C.
Essa era a informação que estava sendo tratada quando Kauffmann Doig propôs sua teoria. Algumas pesquisas recentes colocam em questão tanto o lugar quanto a data. Há estudos que deixam em aberto a possibilidade de que tal domesticação tenha ocorrido de forma independente em outros lugares, como o Peru.
Em todo caso, a afirmação foi um dos alicerces da teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig. Isso deu mais base para sua tese difusionista.
Elementos estranhos no mundo andino pré-cerâmico
Alguns dos elementos que estiveram presentes no final do estádio Agrícola Incipiente, no Peru, pareciam externos a essa cultura. Entre eles estavam os primeiros centros de culto, o milho primitivo e seu cultivo, as cerâmicas rudimentares, os teares com que faziam os tecidos e a iconografia em suas decorações.
Dessa forma, tudo o que foi dito acima reforçou a ideia de Kauffmann Doig da origem estrangeira da civilização andina.
Uma nova abordagem para a teoria aloctonista de Federico Kauffmann Doig
Em 1956, o arqueólogo equatoriano Emilio Estrada descobriu os vestígios da cultura Valdivia. Esses vestígios arqueológicos mostram que seus habitantes cultivavam milho, feijão, abóbora, mandioca, pimenta malagueta e algodão. Estes últimos foram usados nos tecidos de suas roupas. A cultura Valdivia se desenvolveu na costa oeste do Equador.
Naquela época, era a civilização mais antiga registrada nas Américas (entre 3500 aC e 1800 aC). O fato de ser anterior às civilizações mesoamericana e andina deu um novo enfoque à teoria aloctonista.
Então ganhou força a tese de que a difusão das duas culturas veio daí. Em essência, a teoria de Kauffmann Doig propôs que a origem da cultura andina era estrangeira (alóctone, em oposição à autóctone).
Agora, em 1905, o arqueólogo alemão Max Uhle inspecionou El Valle de Supe, localizado a 320 quilômetros ao norte de Lima. Na década de 1970, os arqueólogos descobriram que as colinas originalmente identificadas como formações naturais eram, na verdade, pirâmides com degraus. Esta descoberta é outro revés para a teoria de Kauffmann Doig.
Já na década de 1990 surgiu a extensão total da grande cidade de Caral. Hoje, sabe-se que a Cidade Sagrada de Caral era uma metrópole de 5.000 anos com práticas agrícolas completas, rica cultura e arquitetura monumental.
Deve-se notar que na década de 1980 Kauffmann Doig já havia abandonado sua teoria após reconhecer que ela tinha limitações. No entanto, o debate sobre a origem autóctone ou estrangeira da civilização andina continua.
Referências
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- Mejía Baca, Jy Bustamante e Rivero, JL (1980). História do Peru: Antigo Peru. Lima: Editorial J. Mejía Baca.
- Kauffmann Doig, F. (1976). Peru Arqueológico: um breve tratado sobre o Peru pré-Inca. Lima: Edições GS
- Tauro del Pino, A. (2001). Enciclopédia Ilustrada do Peru. Lima: Editorial Peisa.
- Malpass, MA (2016). Povo Antigo dos Andes. Nova York: Cornell University Press.
- Arqueologia do Peru. (2015, 20 de janeiro). Teorias autóctones: Aloctonista. Recuperado em 22 de janeiro de 2018, de arqueologiadelperu.com.
- Gartelmann, KD (2006). Os rastros do jaguar: culturas ancestrais no Equador. Quito: Plot.
- IPSF. (s / f). Cultura Valdivia. Recuperado em 22 de janeiro de 2018, em ipfs.io.
- Holloway, A. (2014, 08 de agosto). A Cidade Pirâmide de Caral, com 5.000 anos. Retirado em 22 de janeiro de 2018, em ancient-origins.net.