O anacoluto é uma inconsistência na estrutura de uma proposição produto, na maioria das vezes, de uma modificação repentina do discurso. Esses tipos de inconsistências são muito comuns na linguagem coloquial oral, mas também ocorrem na escrita.
Em si mesma, essa falha na sintaxe (regras para unir e relacionar palavras) é apresentada como uma violação das regras da linguagem, embora geralmente não seja devido ao desconhecimento dessas regras. Seu efeito prático é uma descontinuidade na seqüência de construção de uma expressão.
Exemplo de anacoluto em texto de José de Sousa Saramago
Etimologicamente, anacoluto vem do latim anakólouthon ('não seguindo', 'inconseqüente'). Em espanhol, por volta de 1900, passou a ser usado com o significado: Inconsequência no regime ou na construção de uma frase.
Por outro lado, na escrita literária, é usado como um recurso retórico para imitar o pensamento ou a conversa informal e para causar certo impacto nos leitores. Este recurso é usado muito especialmente dentro do estilo chamado fluxo de consciência.
Além disso, ocorre em discursos casuais, especialmente aqueles que ocorrem em um contexto coloquial. Isso ocorre porque, em geral, o coloquialismo não exige perfeição sintática.
Caracteristicas
Uma das características mais marcantes do anacoluto é que ele ocorre com mais frequência na fala do que na escrita. A razão para isso é que a linguagem escrita é freqüentemente mais precisa e deliberada.
Por outro lado, na gramática é considerado um erro. Porém, na retórica, ele é uma figura que mostra excitação, confusão ou preguiça. Eles podem ser encontrados na poesia, drama e prosa para refletir o pensamento humano informal.
Os anacolutos costumam ser considerados um dos vícios da linguagem: o solecismo. O último é definido como erros ou falhas de sintaxe.
Agora, embora um anacoluto também represente uma falha na sintaxe, isso é causado por uma interrupção no discurso (intencional ou acidental). Por sua vez, os solecismos são devidos à ignorância das regras gramaticais.
Tipos de anacoluto
Anapodoton é um tipo muito comum de anacoluto. Consiste na omissão da segunda parte de uma sequência de frases. Muitas vezes isso é interrompido por uma subseção e, em seguida, a segunda parte é omitida.
Por exemplo: "Você já sabe como as coisas funcionam aqui… Ou você faz o que lhe é pedido, porque é para fazer que deve ser… Assim você não terá grande problema."
Na sequência de frases deste exemplo, há uma frase disjuntiva interrompida por uma subseção: "Ou faça o que lhe é pedido…". Porém, a segunda parte da sequência é elidida, produzindo um anacoluto.
Outro caso típico é o anapodoton, ou repetição de parte de uma frase (como uma paráfrase). Também causa interrupção na oração.
Observe este fenômeno em: "Quando você vem, você vem e então conversamos." Nesse caso, "você vier" é equivalente a "quando você vier".
Além disso, nas manchetes e nos artigos da imprensa o anacoluto jornalístico é muito frequente. Isso ocorre, em muitas ocasiões, devido ao espaço limitado disponível ou à concisão característica do gênero.
Exemplos
Em Saramago
Os dois excertos seguintes correspondem à obra Memorial del convent (1982) do escritor José de Sousa Saramago. Como pode ser visto nesses trechos, os anacolutos são comuns na narrativa desse autor.
“Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria mandada fazer propositalmente pelo rei, a cama, que custou 75 mil cruzados, que em Portugal não existem arquitectos de tamanha beleza…”.
Neste fragmento, a frase "a cama" é repetida em um parágrafo. Quando a frase é retomada, segue-se “quem”, quem parece ser o sujeito da “cama” (embora logicamente o sujeito seja “o rei”) e ocorre um anacoluto.
"Quando a cama foi colocada aqui e montada ainda não havia percevejos nela… mas depois, com o uso, o calor dos corpos… que de onde vem esse recheado de insetos é uma coisa que não se sabe…"
Nesta frase a explicação é interrompida: não havia percevejos, mas depois… Aí vários eventos são mencionados, mas o autor realmente não termina a ideia.
De "Aí está o detalhe"
A forma de falar do personagem Cantinflas, interpretado pelo ator Mario Moreno, foi muito particular. Nas seguintes transcrições de seu filme Há o detalhe de 1940, as rupturas no discurso são evidentes.
"Bem, aí está o detalhe! O que ele trouxe jovem - acontece que no momento ele diz que tudo, quem sabe então… porque não é o caso e onde você vê, a sua própria emancipação mas então, cada um vê as coisas segundo ele…
Neste clipe, o personagem está se defendendo em um julgamento de assassinato contra ele. As rupturas do discurso são extremas a tal ponto que é incompreensível.
“Olha, seu peludo nojento… Espere! Total - mas não, porque sim, de jeito nenhum. Ore para que você não perceba, mas temos muitas hesitações. Outro dia alguém me agarrou no telefone, olha só como você vai… ”.
O personagem continua com sua defesa, porém não consegue articular as frases completamente. Por exemplo, para a expressão “just because” uma segunda parte é esperada, mas não foi encontrada.
"Para todos, quando você encontra um lutando pela uni fi cação proletária, que
necessidade havia disso? Porque você e eu, não. Mas o que você, total…
Nesta parte da transcrição existem pelo menos dois anacolutos. A primeira é "porque você e eu, bem, não". E a segunda é "Mas o que você, total." Em ambos os casos, a primeira e a segunda parte das frases não correspondem.
Referências
- Pérez Porto, J. e Merino, M. (2015). Significado de anacoluto. Retirado da definição de.
- Dispositivos literários. (s / f). Anacoluthon. Retirado de literarydevices.net
- Segura Munguía, S. (2014). Léxico etimológico e semântico do latim e das vozes atuais que vêm de raízes latinas ou gregas. Bilbao: Universidade de Deusto.
- Essays, UK. (2013, novembro). Erros de gramática de comunicação oral. Retirado de ukessays.com.
- Balakrishnan, M. (2015). Manual prático para correção de estilo. Madrid: Editorial Verbum.
- Marcos Álvarez, F. (2012). Dicionário básico de recursos expressivos. Bloomington: Xlibris.