- Como funciona a associação livre?
- História da associação livre
- O que acontece quando você se associa livremente?
- Condensação
- Deslocamento
- Método de associação livre (do analista)
- Outros usos da associação livre
- conclusão
- Referências
A associação livre é tanto um método como regra dentro da escola de pensamento da psicanálise fundada por Sigmund Freud. Ainda hoje é utilizado por psicanalistas, apesar de sua antiguidade, dada sua eficácia em eliciar conteúdos inconscientes nos pacientes, principalmente quando estes apresentam dificuldades em articular pensamentos reprimidos em palavras.
Freud descobriu que os sintomas que um paciente apresentava eram sobredeterminados por várias causas, memórias e experiências inconscientes. Ele também descobriu que a mera enunciação de tais memórias traumáticas apenas aliviou o sintoma, mas não poderia curar a doença.
A associação livre consiste em o paciente dizer tudo o que lhe vem à cabeça, sem tentar filtrar de forma alguma. Por exemplo, você pode dizer "diga o que vem à mente em cada palavra que menciono". O paciente teria que responder o que vem à mente ao dizer várias palavras como "infância", "escola", "brincar", "amor" e assim por diante.
O paciente tem a garantia de um ambiente seguro e íntimo para poder dizer o que quiser sem inibições. Por sua vez, o terapeuta garante que tudo o que ele disser será útil para a análise.
Como funciona a associação livre?
O paciente cai em uma espécie de "armadilha" por acreditar que o que ele diz não está relacionado aos seus problemas quando na realidade ocorre o contrário: o que ele diz está intimamente relacionado aos seus problemas, só que ele não consegue perceber porque a conexão entre o que ele diz e o que sente está reprimido.
Isso ocorre porque o material psíquico é multidimensional: ele se organiza como uma rede de memórias em diferentes dimensões. As associações “livres”, na verdade, se referem a cenas múltiplas (na maioria das vezes traumáticas) relacionadas ao sintoma, ou seja, é sobredeterminado.
Portanto, embora a princípio o que o paciente diz pareça loucura, eventualmente ele consegue falar sobre o problema em si. Ele tende a "contornar" o problema mostrando que a resistência é concêntrica e que o problema está entrelaçado em uma multiplicidade de memórias e afetos.
Dentro dessas resistências estão os mecanismos de defesa, que atuam salvaguardando o esquecimento do conteúdo ou memória inconsciente, tentando evitar que o paciente se lembre ou diga o que o faz se sentir mal.
O método catártico não funciona mais, pois não se trata do paciente desabafar ou reviver suas memórias para resolvê-las de outra forma. Nesse novo método, a importância está em poder colocar em palavras o que até então era impossível enunciar.
Com a entrada desses conteúdos no plano simbólico (ou seja, no plano das palavras), o paciente pode pensar em infinitas maneiras de dizer o que pensa ou sente e, portanto, infinitas maneiras também de interpretar suas próprias memórias e torne-os parte da sua história de vida.
História da associação livre
Freud, no início de sua carreira, trabalhou com Josef Breuer conduzindo estudos sobre histeria. Muito influenciado pelos desenvolvimentos do neurologista francês Jean-Martin Charcot, ele começou a experimentar a hipnose como uma técnica dentro do método catártico, que consistia em liberar traumas e memórias dolorosas por meio da palavra.
Essa técnica consistia em colocar uma pessoa em estado alterado de consciência próximo ao sono, de forma que respondesse aos estímulos do experimentador. Era usado para roubar informações que o paciente não conseguia dar enquanto estava acordado.
O objetivo era fazer com que os pacientes revivessem o trauma vivenciado pelo qual desenvolveram sintomas neuróticos, graças ao fato de que, ao serem hipnotizados, os pacientes "ampliaram" sua consciência.
Os pacientes experimentaram uma ab-reação, eles reproduziram impressões que não puderam ser processadas no momento em que foram vivenciados. Isso permitiu que eles traduzissem o afeto não transmitido em palavras, removendo o poder patogênico das memórias.
Sigmund Freud
No entanto, Freud teve dificuldade em hipnotizar seus pacientes. Ele conclui que nem todo mundo está sujeito a cair nesse estado e também reconhece que ele não é um bom hipnotizador. Procurando uma alternativa, ele desenvolve o método de sugestão.
Semelhante à hipnose, esse método consistia em pressionar levemente a cabeça do paciente, ação que permitia a evocação de pensamentos e memórias inconscientes, bem como a capacidade de enunciá-los por meio da palavra.
Usando a sugestão, Freud encontrou uma força oposta ao aparecimento de memórias inconscientes, a resistência. Somente quando derrotado as memórias poderiam aparecer. Ele conclui que a força que resiste deve estar relacionada à força repressiva.
Ao constatar que as memórias surgidas não tinham relação direta com o sintoma que o paciente sofria, Freud decidiu, mais uma vez, abandonar essa técnica. É assim que ele desenvolve o método de associação livre.
O que acontece quando você se associa livremente?
Em associação livre funcionam as mesmas forças que produzem nossos sonhos, ou seja, os mecanismos de condensação e deslocamento.
Condensação
A condensação é o mecanismo pelo qual em um único conteúdo afetos e memórias convergem de diferentes lugares, mas mantendo um elo associativo entre todos. O que é dito na associação carrega conteúdos inconscientes condensados. Portanto, o conteúdo é supérfluo apenas à primeira vista.
Deslocamento
O deslocamento é o mecanismo pelo qual o afeto de uma representação se desprende para se vincular a uma representação originariamente não muito intensa. Esta representação mantém um vínculo associativo com a primeira.
Esse mecanismo pode ser observado quando o sujeito menciona memórias ou pensamentos traumáticos, sentindo-os como estranhos a ele, embora possa ter dificuldade em falar sobre questões aparentemente cotidianas ou mundanas.
Ambas as forças estão intimamente ligadas e trabalham juntas. Assim, uma memória tem vários afetos condensados graças aos diferentes deslocamentos afetivos de outras memórias, o que leva aquela primeira memória a condensar outras tanto quanto podem estar ligadas na cadeia associativa.
Método de associação livre (do analista)
Este método nasceu junto com a nova técnica de mesmo nome. Enquanto o paciente diz o que lhe vem à mente, sem censura ou resistência para dizer algo, o analista permanece em estado de atenção flutuante.
Nesse estado, o analista também põe de lado suas próprias resistências inconscientes e preconceitos pré-conscientes, de modo que não privilegia nenhum conteúdo sobre outro. É um contraponto ao trabalho realizado pelo paciente no espaço terapêutico.
Assim, o analista permite que seu Inconsciente tece a rede de conexões entre afetos e memórias que o paciente diz de forma quase incoerente, de forma que a comunicação entre os dois ocorra do inconsciente para o inconsciente.
O paciente discursa para o analista, com certas conexões inconscientes estabelecidas para o que lhe é doloroso. O analista, por sua vez, lança mão do seu próprio inconsciente para interpretar esse discurso e elucidar as conexões inconscientes que o paciente não consegue reconhecer por si mesmo.
Ao dar ao analista uma interpretação de sua fala, o paciente é capaz de tornar conscientes esses conteúdos reprimidos e, portanto, retrabalhá-los de forma que não sejam mais perturbadores para seu psiquismo.
Uma vez que o conteúdo foi expresso em palavras, o analista oferece uma interpretação do que o paciente disse; A princípio parecerá estranho para você, mas desencadeará um retrabalho contínuo dessas memórias e efeitos de tal maneira que se tornará parte de sua consciência e perderá seu caráter traumático.
Outros usos da associação livre
Embora essa técnica tenha nascido no campo clínico com finalidade terapêutica, o fato de ser uma forma “fácil” de manifestar o inconsciente logo atraiu o interesse de personagens externos à psicanálise e, consequentemente, a expansão dessa técnica em outros campos e. para outros fins.
Seu uso se popularizou principalmente no campo artístico, com artistas como Salvador Dalí usando-o para evocar ideias originais e sem a censura de se adaptar às modas e expectativas artísticas da época.
Salvador Dalí foi um dos maiores expoentes do surrealismo, tendência artística que se concentrava em valorizar o irracional e o inconsciente como elementos essenciais da arte. Intimamente relacionado com a Psicanálise em seus conteúdos, não é surpreendente que também tenham adotado algumas de suas técnicas.
Dentro dessa corrente, a associação livre era conhecida como automatismo. Os poetas se dedicaram a escrever qualquer frase, sentimento ou pensamento que lhes ocorresse, sem dar atenção à rima ou à métrica, respeitando apenas a imaginação e o jantar associativo.
No campo da pintura, a proposta era semelhante: o pintor tinha que olhar para a tela em branco e se deixar levar pela imaginação, sem atentar para preconceitos sobre a técnica ou o estilo.
O inconsciente se reflete no aparentemente absurdo dos temas surrealistas, visto que sonhos e suas produções são pintados. Eles não têm uma lógica e na maioria das vezes não respondem a objetos reais.
André Bretón, outro grande expoente do surrealismo, lançou mão da associação livre para tentar expressar, por meio de sua arte, uma conexão entre a realidade consciente e a inconsciente, procurando aproximá-las e mostrá-las como não tão diferentes entre si.
conclusão
A associação livre foi produto de uma necessidade, por parte de Freud, de encontrar uma alternativa para as limitações que a hipnose e a sugestão lhe traziam. À medida que avançava em seus desenvolvimentos teóricos, o método catártico era insuficiente como forma de exploração do inconsciente, o que mudou quando ele adotou o método da associação livre.
Atualmente o método é usado por psicanalistas em todo o mundo praticamente sem mudanças. Isso se deve à sua grande eficácia em estimular a verbalização de conteúdos inconscientes.
Se você está interessado em saber mais sobre o seu Inconsciente, você mesmo pode fazer o teste: pegue uma página em branco e comece a escrever a primeira coisa que vier à mente, quanto mais tempo você fizer, mais profundidade o conteúdo alcançará.
Referências
- Breuer, J. e Freud, S.: Studies on hysteria, Amorrortu Editores (AE), volume II, Buenos Aires, 1976.
- Freud, S.: A interpretação dos sonhos, AE, XII, idem.
- Freud, S.: Nota sobre o conceito de inconsciente em psicanálise, AE, XII, idem.
- Freud, S.: Defense neuropsychoses, AE, III, idem.
- Freud, S.: Novos pontos sobre neuropsicoses de defesa, idem.
- Freud, S.: Projeto de psicologia para neurologistas, AE, I, idem.
- Freud, S.: A interpretação dos sonhos, AE, V, idem.