- Origem e história
- A episteme barroca
- O barroco na arte
- Contexto histórico da Idade de Ouro Espanhola
- Caracteristicas
- Características da literatura barroca
- Características do conceito
- Autores e trabalhos representativos
- Francisco de Quevedo (1580-1645)
- Baltasar Gracián (1601-1658)
- Referências
O conceito foi uma corrente literária utilizada no século XVII durante o desenvolvimento do Barroco espanhol. Seu estilo é baseado no uso de associações engenhosas entre idéias (conceitos) e palavras. Os autores mais destacados que utilizaram o conceitismo em suas obras foram Francisco de Quevedo e Baltasar Gracián.
O escritor Baltasar Gracián y Morales (1601-1658) estabeleceu que o conceitismo consistia em um ato de compreensão que visava expressar a correspondência que existe entre os objetos. Portanto, o conceito buscou utilizar uma expressão que concentrasse o maior significado na menor quantidade de palavras.
Francisco de Quevedo foi um dos autores que utilizou o estilo conceptista. Fonte: Juan vander Hamen (domínio público)
Conseqüentemente, pode-se dizer que o conceito utilizou a polissemia de forma recorrente. Em termos linguísticos, a polissemia ocorre quando a mesma palavra pode ter significados diferentes.
Para estabelecer relações engenhosas entre significados e palavras, o conceitismo também utilizou outros recursos, como equívocos, elipses, paradoxos e antíteses. Por essa razão, afirma-se que os escritores conceituais deveriam ser bem instruídos na disciplina retórica.
Da mesma forma, a corrente do conceitismo estava ligada ao gongorismo ou culteranismo. Alguns autores defendem que são dois estilos diferentes, porém, a maioria dos críticos estabelece que o culteranismo é na verdade um aspecto ou uma manifestação do conceitismo.
Ambos os estilos têm em comum o fato de seguirem as linhas estéticas do maneirismo e do barroco; conseqüentemente, a obra literária obteve seu valor por meio da complicação da linguagem. Isso surge como uma resposta ao movimento renascentista, que propunha a naturalidade e a simplicidade da linguagem.
Origem e história
A episteme barroca
O barroco foi um movimento artístico e filosófico que se desenvolveu na Europa e na América Latina no decorrer do século XVII. Em seus primórdios, a palavra barroco carregava-se de um sentido pejorativo, uma vez que era relacionada ao exagerado, ao extravagante e ao sobrecarregado. Todos esses elementos contrastavam com a ordem e a harmonia da Renascença.
Alguns autores estabelecem que o Maneirismo (breve movimento localizado entre o Barroco e o Renascimento) e o Barroco surgiram em resposta ao declínio dos ideais renascentistas. Por isso, propõe-se que as ideias de equilíbrio e ordem tenham desaparecido para dar lugar a uma visão mais pessimista e decepcionada da realidade.
Como expressão plástica desta visão surgiu a ânsia de demonstrar a instabilidade da realidade, bem como a transitoriedade de tudo o que existe. Isso atraiu o interesse pela extravagância, freqüentemente manifestada pelo monstruoso ou pelo artificial e complicado.
O barroco na arte
Na pintura, isso se manifestou através do contraste de sombras e luzes; linhas curvas e quebradiças foram enfatizadas na arquitetura, bem como jardins labirínticos. Por outro lado, na literatura foram aplicados os esquemas gongoristas, que se baseavam no uso recorrente de neologismos e hiperbátonos.
Da mesma forma, nas obras literárias foi introduzida a figura do malandro. Isso com o objetivo de conscientizar os leitores sobre a miséria da condição humana. No entanto, essa imagem foi desenvolvida a partir de uma abordagem satírica e moralizante, como pode ser visto na obra La vida del Buscón (1626), de Francisco de Quevedo.
Contexto histórico da Idade de Ouro Espanhola
O Barroco em Espanha constituiu um período paradoxal, visto que culturalmente é considerado a Idade de Ouro (devido ao seu desenvolvimento na pintura, música e literatura), mas do ponto de vista histórico foi antes um século de crise.
Por exemplo, demograficamente, a população diminuiu de forma alarmante devido à fome. Além disso, os campos sofreram um despovoamento notório, que se agravou com a expulsão dos mouros - descendentes de muçulmanos.
Economicamente, a Espanha estava falida. Isso é consequência de guerras e conflitos internos. Nesse sentido, as secas, as epidemias, a perda de camponeses e o declínio do ouro americano também influenciaram.
A sociedade espanhola carecia de uma burguesia empreendedora e a corte era caracterizada pelo seu desperdício. Por outro lado, a nobreza quase não pagava impostos e mantinha o monopólio da terra e dos cargos públicos. Os plebeus tiveram que pagar altos impostos, além disso foram os primeiros afetados pelas crises econômicas.
Nesse período também cresceu o número de miseráveis, estrato social espanhol composto por malandros, mendigos, ladrões e mendigos. Este grupo de pessoas se estabeleceu nas cidades e causou estragos. Todos estes elementos prejudicaram o desenvolvimento da Península Ibérica durante a Idade de Ouro.
De uma perspectiva religiosa, a Espanha havia assumido os ideais da Contra-Reforma - oposição à Reforma Protestante - que foram rigorosamente aplicados pela Inquisição. As diretrizes da contra-reforma foram disseminadas nos centros educacionais e no teatro.
Além disso, socialmente, havia sido imposta a necessidade de purificação do sangue, que consistia em demonstrar que não se tinha ancestralidade muçulmana ou judia por pelo menos três gerações. Isso gerou divisões sociais e ressentimentos.
Caracteristicas
Para compreender o conceitismo em sua totalidade, é necessário primeiro mencionar algumas das características da literatura barroca. Isso porque o conceitismo é uma corrente que foi produzida pela arte barroca.
Características da literatura barroca
- Foi um estilo que queria surpreender o leitor. Assim, a base dessa literatura consistia na dificuldade de seus textos, que buscavam desafiar a inteligência de quem os lia.
- Houve presença constante de decepção e pessimismo. Dessa visão são extraídos alguns clichês como carpe diem, nostalgia e morte. Além disso, em alguns textos foi levantado um questionamento sobre a realidade e enfatizada a transitoriedade da vida, como pode ser visto no texto A vida é um sonho, de Calderón de la Barca.
- Alguns autores da literatura barroca introduziram uma atitude crítica de cunho satírico e sarcástico. Isso estimulou o surgimento do picaresco como gênero e resultou no uso de personagens como o louco, o bêbado, o engraçado ou o patife; Geralmente, eles estão situados à margem da sociedade.
- A linguagem literária foi enriquecida por cultismos, bem como torções expressivas. Para isso, foram utilizados jogos de palavras, metáforas, paradoxos e acúmulo de imagens.
Características do conceito
- A literatura conceitual deu mais importância ao fundo do que à forma. Quanto à poesia conceitual, era poesia de conteúdo e associação engenhosa entre ideias e palavras.
- O conceitismo operado em pensamentos abstratos. Para isso, usou paradoxos, antíteses e frases com duplo sentido.
- Alguns definem o conceitismo como um jogo de associações e pensamentos onde a acuidade mental e criativa é posta à prova.
- O conceitismo buscava o extraordinário para despertar a inteligência e despertar a admiração dos leitores.
- A literatura desta corrente estava interessada em jogos de palavras e engenhosidade humana. Por isso, apelou para a imaginação. Em alguns casos, também apelou aos sentidos, mas isso correspondeu mais ao aspecto culteranismo.
Autores e trabalhos representativos
Francisco de Quevedo (1580-1645)
É considerado pela crítica como um dos autores mais destacados da literatura espanhola. Quevedo escreveu poesia, narrativa, teatro e vários textos filosóficos onde abordou questões políticas, morais, históricas e humanísticas.
Uma de suas obras mais conhecidas foi La vida del Buscón (1626). No entanto, o autor nunca admitiu ter escrito este texto para evitar a censura da Inquisição. É um romance picaresco onde se narra a vida de Don Pablos, um rufião.
A vida do buscón é uma obra literária correspondente à corrente conceitual. Fonte: Francisco de Quevedo
Para os críticos, o texto é uma sátira que pode ser classificada como uma caricatura sangrenta pelo exagero de sua prosa; Isso porque Quevedo não descreveu os personagens ou lugares de uma forma realista, mas sim grotescamente. Esse exagero é típico do estilo barroco.
Por sua vez, Quevedo demonstrou um notável domínio da linguagem, pois utilizou um vocabulário muito amplo e brincou com os significados. Por isso, La vida del buscón é considerada uma obra conceitual.
Baltasar Gracián (1601-1658)
Ele foi um jesuíta espanhol que se dedicou a cultivar a filosofia e a prosa didática. É considerado um dos mais importantes representantes da corrente conceitualista, já que suas obras eram carregadas de aforismos, polissemias e trocadilhos. A linha de pensamento deste autor é bastante pessimista, o que condiz com o período barroco.
Para Gracián, o mundo era um espaço enganoso e hostil. Portanto, em suas obras, a malícia prevaleceu sobre a verdade e a virtude. Sua criação mais proeminente foi El Criticón, que foi publicado em três partes ao longo de vários anos: 1651, 1653 e 1657.
A obra El criticón é considerada o auge do barroco espanhol. Trata-se de uma alegoria que aborda toda a vida do homem, representada em duas personagens opostas: Andreino, impulsivo e inexperiente, e Critilo, experiente e prudente. O texto é focado na sátira social e decepção, porém segue a estrutura de uma epopéia moral.
Referências
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- SA (sf) Conceptism. Obtido em 22 de novembro de 2019 em es.wikipedia.org
- Literatura barroca SA (sd) (século XVII). Obtido em 22 de novembro de 2019 de edu.xunta.gal