- Causas
- Romantismo e nacionalismo
- Confederação Alemã
- União Aduaneira ou Zollverein
- Falha das revoluções de 1830 e 1848
- A rivalidade entre Prússia e Áustria
- Caracteristicas
- Antidemocrático
- Conseguido com guerra
- Estágios
- Guerra dos ducados
- Guerra Austro-Prussiana
- Guerra Franco-Prussiana
- Consequências
- Nascimento de um grande poder
- Imposição cultural
- Formação da Tríplice Aliança
- Referências
A unificação alemã foi um processo histórico que ocorreu durante a segunda metade do século 19 e concluiu com a criação do Império Alemão em janeiro de 1871. Antes da unificação, havia 39 Estados diferentes naquele território, o Império Austríaco e o Prússia.
A ideia de reunir todos esses territórios sob o mesmo estado ganhou força no início do século. Para isso contribuíram várias causas, desde a ideológica, com o surgimento do romantismo nacionalista alemão, até a econômica e estratégica, como a disputa entre a Áustria e a Prússia pela conquista da supremacia na Europa Central.
Guillermo I - Fonte: Kabinett-Fotografie sob a licença CC BY-SA 3.0
A unificação foi realizada por meio de armas. Houve três guerras que expandiram o território prussiano e levaram à criação do Império. Áustria e França foram as que mais sofreram, pois foram obrigadas a ceder alguns territórios e, além disso, seu poder político foi reduzido.
O resultado da unificação foi o surgimento de uma nova grande potência. O Império tentou obter colônias na África, colidindo com os britânicos e franceses. Juntamente com outras circunstâncias, isso levou à criação de várias alianças internacionais que duraram até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Causas
Com o fim das Guerras Napoleônicas, começou a prevalecer a ideia de unificar todos os territórios que haviam pertencido ao Sacro Império Alemão sob o mesmo estado. O Congresso de Viena, realizado em 1815, não atendeu às demandas nacionalistas por esse objetivo.
Antes de sua unificação, a Alemanha estava dividida em 39 estados diferentes. Os mais proeminentes, tanto política, econômica e militarmente, foram o Império Austríaco e o Reino da Prússia.
Os dois protagonistas do processo de unificação foram o rei prussiano, William I, e seu chanceler, Otto Von Bismarck. Ambos começaram a manobrar para atingir o objetivo de uma Alemanha unida e que se tornasse a grande potência do centro do continente.
Otto Von Bismarck
Uma das figuras mais importantes da história europeia durante a segunda metade do século 18 foi Otto Von Bismarck, apelidado de Chanceler de Ferro. Não apenas por seu papel na unificação alemã, mas por ser o arquiteto da Paz armada, um sistema de alianças que manteve um equilíbrio tenso por várias décadas.
Bismarck nasceu em 1815 e governou por quase trinta anos. De tendência conservadora, o político foi, primeiro, ministro do rei da Prússia e, posteriormente, ministro do imperador da Alemanha. Durante o processo de unificação, ele liderou as três guerras que levaram à formação do Império Alemão.
O chanceler também foi o ideólogo da reforma militar que Guillermo I. Para realizá-la, instituiu uma autêntica ditadura, dispensando o parlamento entre 1862 e 1866. Com os impostos fixados pelo rei, Bismarck conseguiu transformar seu país em uma potência capaz de enfrentar com sucesso austríacos e franceses.
Romantismo e nacionalismo
No plano ideológico, a unificação alemã foi precedida pelo surgimento do romantismo alemão, mais especificamente aquele que estava ligado ao nacionalismo. Essa conjunção afirmou que a legitimidade do Estado advém da homogeneidade de seus habitantes.
Esse tipo de nacionalismo baseava a existência de um Estado em aspectos como a língua, a cultura, a religião e os costumes de seus habitantes. Essa corrente ideológica teve um importante reflexo na cultura, da música à filosofia, passando pela literatura.
Na Prússia, esse sentimento nacionalista foi fortalecido durante a guerra contra as tropas de Napoleão. Assim surgiu o conceito "volkssturm", que significava "a condição de ser uma nação" no sentido de ser um povo.
Entre 1815 e 1948, esse nacionalismo romântico teve um caráter liberal, com fortes raízes intelectuais. Filósofos como Hegel e Fichte, poetas como Heine ou contadores de histórias como os Irmãos Grimm se destacaram. No entanto, a revolução fracassada de 1848 causou o fracasso do projeto liberal.
Começando em 1848, grupos nacionalistas começaram campanhas políticas para encorajar a unificação da Alemanha em um estado. Bismarck e William I compartilhavam desse desejo, mas de um ponto de vista mais autoritário do que liberal.
Confederação Alemã
As potências vitoriosas na guerra contra Napoleão se reuniram no Congresso de Viena em 1815 para reorganizar o continente e suas fronteiras. O acordo resultante contemplou a criação da Confederação Germânica, que agrupava 39 estados alemães que haviam feito parte do Sacro Império Germânico.
Esta Confederação estava sob a presidência da Casa da Áustria e não satisfez o crescente nacionalismo alemão. A Dieta, uma espécie de Parlamento, era composta por delegados indicados pelos governos de cada Estado, que continuavam com sua soberania.
Quando estourou a Revolução Alemã de 1848, com grande repercussão popular, era claro que a unificação viria mais cedo ou mais tarde. A questão era quem o lideraria, Prússia ou Áustria.
Essa rivalidade podia ser vista na própria operação da Confederação. Acordos e unidade de ação só foram possíveis quando a Prússia e a Áustria estavam de acordo, o que acabou levando à Guerra das Sete Semanas.
A vitória prussiana significou o fim da Confederação Alemã e sua substituição, em 1867, pela Confederação Alemã do Norte.
União Aduaneira ou Zollverein
A única área em que a maioria dos estados alemães concordou foi a econômica. Por proposta da Prússia, a União Aduaneira foi criada em 1834. Também conhecido como Zollverein, era uma zona de livre comércio no norte da Alemanha.
A partir de 1852, o Zollverein foi estendido aos demais estados alemães, com exceção da Áustria. Este mercado permitiu que a região se desenvolvesse industrialmente, assim como o aumento da influência da burguesia e o crescimento da classe trabalhadora.
Falha das revoluções de 1830 e 1848
No quadro das chamadas revoluções burguesas, ocorreram dois surtos na Alemanha: em 1830 e em 1840. No entanto, o seu fracasso acabou com a pretensão de trazer um sistema mais democrático para a região, consolidando o absolutismo.
Parte desse fracasso deveu-se à aliança que a burguesia alemã estabeleceu com a aristocracia, pois temia o triunfo dos movimentos operários e democráticos.
Mesmo assim, a influência dos revolucionários foi notada na questão de uma possível unificação. Os liberais defenderam a criação de um estado federal, com um imperador à frente. Enquanto isso, os democratas apostavam em um estado centralizado.
Além disso, havia duas outras sensibilidades: aqueles que preferiam uma Pequena Alemanha, sem Áustria, e aqueles que defendiam uma Grande Alemanha, com a Áustria como parte integrante.
A rivalidade entre Prússia e Áustria
As diferenças entre a Prússia e o Império Austríaco se deviam à tentativa de ambas as potências de controlar o processo de unificação e, sobretudo, do poder uma vez ocorrido.
Os prussianos, sob o reinado de Guilherme I e com Bismarck como primeiro-ministro, buscaram a criação de uma Alemanha unida sob a hegemonia prussiana.
Foi o Chanceler de Ferro quem afirmou que a unificação se justificava por uma razão de Estado. Esse motivo permitiu, segundo Bismarck, usar qualquer medida para alcançá-lo, independentemente do custo.
Em seu confronto com a Áustria, a tática prussiana foi isolar seu rival com o apoio da França. Ao mesmo tempo, ele isolou diplomaticamente a Rússia para que não pudesse ajudar os austríacos.
Por outro lado, a Prússia dedicou seus esforços para superar a Áustria militarmente, preparando-se para quando a guerra inevitável chegasse. Por fim, bastava esperar o pretexto para iniciar as hostilidades.
Caracteristicas
A unificação alemã, conforme convinha à política do país, foi conservadora e autoritária em caráter. Além da aristocracia e da nobreza latifundiária, recebeu o apoio da pequena nobreza industrial.
O novo Estado foi governado sob um sistema monárquico e federal, denominado II Reich. Seu primeiro imperador foi William I. Com isso, a supremacia prussiana dentro do Império Alemão foi estabelecida.
Antidemocrático
A unificação alemã foi decidida pelas elites prussianas, embora contassem com o apoio de grande parte da população. As pessoas não foram consultadas e, em algumas áreas, foram forçadas a mudar sua religião e idioma.
Conseguido com guerra
A criação do Império Alemão não foi de forma alguma um processo pacífico. Para unificar os estados germânicos, três guerras foram desenvolvidas. A paz não veio até que a unificação entrou em vigor.
Estágios
Como observado acima, foram necessárias três guerras para que a unificação alemã ocorresse. Cada um deles marca uma etapa diferente do processo.
Estes confrontos bélicos serviram para a Prússia estender seu território, especialmente para consistir na Áustria e na França. O protagonista dessas guerras foi Otto Von Bismarck, que desenhou a estratégia, política e militar, de seu país controlar o território unificado.
Guerra dos ducados
O primeiro conflito colocou a Áustria e a Prússia contra a Dinamarca: a Guerra dos Ducados. O motivo que deu origem ao conflito, desenvolvido em 1864, foi a luta pelo controle de dois ducados, Schleswig e Holstein.
Os antecedentes dessa guerra remontam a 1863, quando a Confederação Germânica apresentou um protesto contra a tentativa do rei da Dinamarca de anexar o Ducado de Schleswig, então sob controle alemão.
De acordo com um acordo assinado em 1852, Schleswig tinha sido unido ao Holstein, outro ducado que pertencia à Confederação Germânica. Bismarck convenceu o monarca austríaco a defender este acordo e, em 16 de janeiro de 1864, eles emitiram um ultimato para a Dinamarca desistir de seu propósito.
A guerra terminou com a vitória da Prússia e da Áustria. O Ducado de Schleswig ficou sob administração prussiana, enquanto Holstein ficou sob a Áustria.
Bismarck, no entanto, aproveitou o apelo comercial do Zollverein para impor sua influência sobre Holstein também. Sua justificativa era o direito de autodeterminação dos povos, pelo qual o desejo dos habitantes de ingressar na Prússia deveria ser respeitado.
Guerra Austro-Prussiana
O chanceler Bismarck continuou sua estratégia para estabelecer a supremacia prussiana sobre os austríacos. Assim, ele conseguiu que Napoleão III declarasse sua neutralidade em caso de um possível confronto e aliou-se a Victor Emmanuel II.
Tendo feito isso, ele declarou guerra à Áustria. Sua intenção era tirar alguns territórios e, para isso, preparou-se, impulsionando fortemente seu desenvolvimento industrial e militar.
Em poucas semanas, as tropas prussianas derrotaram seus inimigos. A batalha final ocorreu em 1866, em Sadowa. Após a vitória, Prússia e Áustria assinaram a Paz de Praga, que permitiu a expansão territorial prussiana.
Por outro lado, a Áustria renunciou definitivamente para fazer parte de uma futura Alemanha unificada e aceitou a dissolução da Confederação Germânica.
Guerra Franco-Prussiana
A última fase da unificação, e a última guerra, confrontou a Prússia com um de seus inimigos tradicionais: a França.
O motivo do conflito foi o pedido da nobreza espanhola para que o príncipe Leopold de Hohenzollern, primo do rei da Prússia, aceitasse a coroa da Espanha, então vaga. A França, temerosa de estar entre dois países dominados pela nobreza prussiana, opôs-se a essa possibilidade.
Logo depois, Napoleão III declarou guerra à Prússia, alegando que Guilherme I havia desprezado o embaixador francês ao se recusar a recebê-lo em seu palácio.
Os prussianos, antecipando os acontecimentos, já haviam mobilizado 500.000 homens e derrotado os franceses de forma avassaladora em várias batalhas. O próprio Napoleão III fora feito prisioneiro durante a guerra.
O Tratado entre os dois rivais foi assinado em Sedan, em 2 de setembro de 1870. A derrota causou uma grande insurreição em Paris, onde foi declarada a Terceira República Francesa.
O novo governo republicano tentou continuar a luta contra os prussianos, mas eles avançaram imparável até ocupar Paris. A França não teve escolha a não ser assinar um novo Tratado, desta vez em Frankfurt. Este acordo, endossado em maio de 1871, estabeleceu a cessão da Alsácia e da Lorena à Prússia.
Consequências
Com a anexação da Alsácia e da Lorena, a Prússia, doravante chamada de Alemanha, a unificação foi concluída. O próximo passo foi a fundação do Império Alemão em 18 de janeiro de 1871.
O monarca prussiano Guilherme I foi nomeado imperador no Salão dos Espelhos de Versalhes, algo considerado uma humilhação para a França. Bismarck, por sua vez, ocupou o cargo de chanceler.
O Império recém-criado assumiu a forma de uma confederação, dotada de uma Constituição. Tinha duas câmaras de governo, o Bundesrat, composto por representantes de todos os estados, e o Reichstag, eleito por sufrágio universal.
Nascimento de um grande poder
A Alemanha viveu um período de crescimento econômico e demográfico que a tornou uma das principais potências europeias.
Com isso, passou a participar da corrida para colonizar territórios africanos e asiáticos, em competição com o Reino Unido. As tensões causadas por esse fato foram uma das causas da Primeira Guerra Mundial.
Imposição cultural
Dentro do Império, o governo promoveu uma campanha cultural para homogeneizar os Estados que faziam parte da nova nação.
Entre os efeitos dessa unificação cultural estavam a eliminação de algumas línguas não alemãs da educação e da vida pública, bem como a obrigação de a população não alemã abandonar seus próprios costumes ou, caso contrário, deixar o território.
Formação da Tríplice Aliança
Bismarck iniciou um esforço diplomático para fortalecer a posição de seu país contra o resto das potências europeias. Para isso, ele promoveu a criação de alianças internacionais que neutralizariam o perigo de novas guerras no continente.
Dessa forma, ele negociou com a Áustria e a Itália a formação de uma coalizão, chamada de Tríplice Aliança. Inicialmente, o acordo entre esses países era para fornecer apoio militar em caso de conflito com a França. Mais tarde, quando os franceses assinaram suas próprias alianças, esta foi estendida à Grã-Bretanha e à Rússia.
Além disso, o chanceler aumentou os gastos militares para fortalecer ainda mais seu exército. Esse período, conhecido como Paz Armada, culminou anos depois com a Primeira Guerra Mundial.
Referências
- Escuelapedia. A Unificação da Alemanha. Obtido em schoolpedia.com
- Mundo antigo. Unificação alemã. Obtido em mundoantiguo.net
- História universal. Unificação alemã. Obtido em mihistoriauniversal.com
- Universidade de York. Prússia e a Unificação da Alemanha, 1815-1918. Obtido em york.ac.uk
- Editores da History.com. Otto von Bismarck. Obtido em history.com
- Kenneth Barkin, Gerald Strauss. Alemanha. Obtido em britannica.com
- Bundestag alemão. O movimento alemão de unificação e liberdade (1800 - 1848). Obtido em bundestag.de
- Cultura Alemã. Bismarck e a Unificação da Alemanha. Obtido em germanculture.com.ua