- O que é perdão?
- Benefícios de perdoar
- Como se desculpar com um ente querido em 9 etapas
- 1. Aceite a responsabilidade pelo que você fez
- 2. Não se condene, continue!
- 3 . Perdoe á si mesmo
- 4. Analise e reconheça o dano que você causou
- 5. Piedade e empatia com a vítima
- 6. Pense se você realmente está arrependido e analise seu comportamento
- 7. Estabeleça um plano de ação
- 8. Peça explicitamente por perdão
- 9. Restaura o dano causado por meio de comportamentos de reparação direta / indireta
- Referências
Aprender como se desculpar com um ente querido é importante para restabelecer a confiança, restaurar a segurança daquele que você ofendeu e promover um novo compromisso em seu relacionamento.
O perdão foi estudado há relativamente pouco tempo e a maior parte da pesquisa se concentrou na pessoa que perdoa, ignorando mais a pessoa que o ofendeu. Quem pede perdão enfrenta, em primeiro lugar, o perdão de si mesmo, sendo ao mesmo tempo aquele que ofende e aquele que perdoa a si mesmo.
O que é perdão?
Autores e pesquisas tentaram esclarecer e definir a construção do perdão sem chegar a um acordo. Alguns autores a definem sob dimensões positivas, como a capacidade do ser humano de ser empático, reconciliar, compreender e esquecer.
Por outro lado, diversos autores definem o perdão não pelo positivo, mas pela ausência do negativo (não há ressentimento, a pessoa supera o ódio, a raiva e a vingança).
O perdão a si mesmo foi definido por alguns autores (Cornish e Wade, 2015) como “um processo em que a pessoa assume a responsabilidade por ter feito mal a outra, expressa remorso e se envolve para restaurar o dano causado por meio de comportamentos reparadores e alcança o respeito próprio, aceita a si mesmo e a sua autopiedade ».
O perdão não foi considerado relevante para o estudo por alguns anos. Internacionalmente, a partir dos anos 90, ela começou a ser considerada, e só na década em que nos encontramos é que passou a ser levada em consideração em nosso país.
No quadro da psicologia positiva, que se recuperou nos últimos anos e onde as forças pessoais são enfatizadas, o perdão e seus componentes têm recebido mais atenção.
Perdoar é não esquecer, pois, para isso, é inevitável a memória da ofensa. Além disso, reconciliar o ofensor com a pessoa ofendida só faz sentido quando existe um vínculo anterior entre os dois.
Benefícios de perdoar
O perdão tem efeitos psicológicos positivos para a pessoa ofendida: permite que ela não viva atormentada e ancorada na ofensa passada, melhora sua saúde e restaura a paz interior.
A capacidade de perdoar depende de diferentes fatores, tais como: a história anterior entre os dois, como a ofensa foi percebida, como a pessoa que foi ofendida concebe a vida, seu sistema de valores e que atitude o ofensor tomou.
Quando os sujeitos são capazes de perdoar, todos os pensamentos, emoções e comportamentos em relação a essa pessoa se tornam mais positivos e ajudam a provocar mudanças em suas motivações interpessoais.
Pedir perdão a outra pessoa exige que reconheçamos o dano que causamos, que nos arrependamos, que tenhamos compaixão pela pessoa que ofendemos e que o solicitemos acrescentando um reparo no vínculo.
O perdão está ligado ao bem-estar psicológico e influencia diretamente a saúde mental das pessoas envolvidas.
Como se desculpar com um ente querido em 9 etapas
1. Aceite a responsabilidade pelo que você fez
Para facilitar o perdão, é importante que você assuma a responsabilidade por suas ações. Às vezes, quando ofendemos outra pessoa, tentamos nos exonerar evitando a responsabilidade e culpando os outros pelo que fizemos.
Às vezes, justificamos tudo o que fizemos a todo custo e tentamos evitar situações ou pessoas que nos lembrem do que fizemos. Tudo isso prejudicaria o verdadeiro perdão.
Se fizermos isso, dificultaremos a aceitação da responsabilidade pelo que fizemos. É uma estratégia pela qual externalizamos a responsabilidade pelo ato cometido e neutralizamos a culpa que sentimos.
Seria um mecanismo pelo qual a ofensa cometida é negada e, portanto, focada na emoção. Para se desculpar com outra pessoa, é importante que você pense sobre a responsabilidade que você tem em tudo o que aconteceu.
2. Não se condene, continue!
Depois de aceitar sua própria responsabilidade pelo que aconteceu, é hora de seguir em frente. Não é apropriado culpar os outros e não aceitar sua própria responsabilidade, mas não é apropriado internalizar a culpa e agir com vergonha, culpa e autopunição.
Aceitar a responsabilidade nos leva a pedir perdão, mas emoções excessivamente negativas podem nos paralisar e não agir de maneira adequada.
Alguns autores falam em distinguir entre o “remorso” que nos ajuda, porque é benéfico por nos ajudar a sentir pesar e humildade diante do ocorrido, e a autocondenação, que seria disso que estamos falando.
O perdão que nasce do remorso seria o verdadeiro perdão, mas o perdão que nasce da vergonha levaria à autocondenação.
A vergonha, segundo alguns autores, surge do fato de a pessoa se sentir indigna ou má e, portanto, não estar pronta para o perdão, pois se concentra em digerir o peso que a vergonha produz.
3. Perdoe á si mesmo
Muitas vezes, quando uma pessoa ofende outra, ela experimenta culpa e remorso pelo que aconteceu. Isso pode nos ajudar a motivar mudanças e restaurar nosso relacionamento com essa pessoa.
Algumas pesquisas indicam que o remorso pode expressar o valor que a pessoa que ofendeu outra atribui ao seu relacionamento com ela.
O importante é reconhecer o passado, vivenciar as emoções que nos levam ao arrependimento e comportar-nos para enfrentar o ocorrido corrigindo o que foi feito.
Ao longo desse processo, você deve recuperar a imagem de si mesmo como uma pessoa boa que cometeu um erro e, portanto, reconciliar-se consigo mesmo.
É um enfrentamento que tem como foco a resolução do problema e que nasce para mudar a situação que gerou todos os sentimentos negativos.
Ninguém é totalmente bom ou totalmente branco, existem cinzas. E estamos todos errados. Você deve ser tolerante com suas falhas e defeitos e aceitar que pode estar errado.
4. Analise e reconheça o dano que você causou
Muitas vezes não temos consciência dos danos que causamos e do sofrimento da pessoa que ofendemos. Você também precisa reconhecer suas emoções, os sentimentos de decepção ou tristeza que você tem e os sentimentos que o levaram a realizar o comportamento.
Tome consciência de suas emoções e de quando elas surgem e por quê, isso faz parte do autoconhecimento e da inteligência intrapessoal (sua própria inteligência emocional). Estar ciente é o primeiro passo para ser capaz de controlá-lo.
Reconhecer o dano causado implica em dar uma explicação à pessoa, mas como dizemos, nenhuma desculpa ou justificativa para o que foi feito. Concentre suas explicações em você mesmo e no que deu errado.
Muitas vezes dizemos "é que me deixaste nervoso", "é que me tiraste das minhas caixas". Esse tipo de frase é "você-frase", em que você culpa a outra pessoa pelo seu erro. Isso implica que seu perdão não é sincero.
5. Piedade e empatia com a vítima
Esta etapa está intimamente ligada à anterior. Quando reconhecemos que prejudicamos a outra pessoa, abordamos sua posição e compreendemos e sentimos empatia por sua dor.
Perdoar não significa apenas pedir desculpas à outra pessoa se realmente não houver um profundo processo interno de empatia e comunicação com a outra pessoa.
Você não deve apenas reconhecer que a magoou, mas estar consciente internamente, colocando-se no lugar da outra pessoa e sentindo a dor dela.
6. Pense se você realmente está arrependido e analise seu comportamento
É importante que você analise seu comportamento e o que realmente o levou a ofender a outra pessoa. Muitas vezes, até mesmo essa pessoa vai perguntar quando você se aproxima para se desculpar.
Compartilhar com ela, quando necessário, as motivações que o levaram ao comportamento pode ajudar a avançar no perdão e na reconciliação.
Não se deve confundir com desculpas, mas apenas como análise do comportamento, porque isso, sem dúvida, o levará a fazer melhor as coisas da próxima vez. Se você não está ciente, não pode melhorar.
7. Estabeleça um plano de ação
O estabelecimento de um plano de ação aborda duas questões fundamentais e diferentes. Em primeiro lugar, e desde a fase anterior, segue-se que, ao analisar seu comportamento, está mais preparado para saber o que deu errado.
O plano de ação refere-se a saber distinguir de que outra forma poderíamos ter agido para não ofender a pessoa. Trata-se de fazer um plano de como você pode agir na próxima vez.
Compartilhar com a vítima é um passo importante para pedir perdão e facilitar a reconciliação. Por exemplo, você pode incluir no plano o que falhou em você ou nas circunstâncias e tentar fortalecer suas fraquezas para fazer melhor na próxima vez.
É importante que os objetivos definidos sejam concretos e alcançáveis, portanto, você deve torná-los operacionais. Não estamos falando de intenções, mas de planos com ações que você pode realizar.
E claro, cometendo, senão não adiantaria e seria na água de borragem.
Seu plano de ação também pode abordar como você vai pedir perdão. Depois de reconhecer o fato e ter empatia pela vítima, você pode escolher como pode ser apropriado se desculpar, o que será o próximo passo.
A forma mais sincera é face a face, mas há outras pessoas que como etapas intermediárias se sentem mais à vontade para escrever uma carta, por exemplo, onde expressam tudo o que foi dito acima.
Pode ser uma boa maneira, desde que você acabe enfrentando a situação pessoalmente e conversando com ela sobre o que aconteceu.
8. Peça explicitamente por perdão
Embora esta etapa seja a mais visível e onde verbalizamos o perdão à outra pessoa, não é por isso o mais importante.
Na vida cotidiana, muitas vezes esse é considerado o único passo a ser levado em conta quando pedimos perdão a outra pessoa. Nada está mais longe da realidade.
Na verdade, se você pensar bem, muitas vezes alguém veio nos pedir perdão e nós dissemos "você está sempre me pedindo perdão pela mesma coisa", ou "Eu te perdôo, mas amanhã você fará o mesmo comigo novamente".
Eles são exemplos claros de que as etapas anteriores falharam e que pedir perdão não faz nenhum sentido se não levarmos em consideração as etapas anteriores.
Muitas outras vezes, quando alguém nos pede perdão, pensamos que seu perdão "não parecia verdade", e isso acontece pelo mesmo motivo. A pessoa percebe quando é um pedido genuíno de desculpas ou não.
Esta etapa deve incluir etapas anteriores, onde comunicamos à pessoa o que sentimos, o que pensamos que faríamos, etc. E comunique-o verbalmente.
A outra pessoa deve compreender que o seu pedido de perdão não é em vão e que é estruturado por um plano e sentimentos profundos e comprometidos. Muitas vezes temos dificuldade em dizê-lo.
Você pode praticar o que quer dizer antes, se isso o deixar mais confortável, mas deixe claro que se o seu pedido de perdão nasceu genuinamente e você realizou as etapas anteriores, não precisará praticá-lo porque a pessoa perceberá que seu pedido é sincero.
Ao pedir desculpas, o melhor é escolher bem, escolher o momento, e expressar lenta e calmamente o que lhe interessa. Não procure desculpas ou conflito, não é hora de fazer isso.
Quando se trata de se desculpar, é importante que você comece se desculpando pelo que aconteceu, depois expresse que está arrependido, focalizando as emoções que o ato de ofender você produziu.
Continue com empatia, indicando como ele deve se sentir e que você entende que ele está zangado com o que aconteceu. Acaba oferecendo uma solução, um caminho diferente.
9. Restaura o dano causado por meio de comportamentos de reparação direta / indireta
É necessário restaurar o dano que produzimos na pessoa. E podemos fazer tudo isso por meio de comportamentos reparadores. Além disso, esses comportamentos reparadores podem ser boas estratégias para controlar os sentimentos de culpa.
Esteja disponível para a outra pessoa, para suas demandas e tenha em mente que você deve reconstruir a confiança.
Referências
- Echeburúa, E. (2013). O valor psicológico do perdão em vítimas e agressores. Eguzkilore, 27, 65-72.
- Portal Flores, IC (2009). O perdão como potencial humano. Themat. Psicol., 5 (1), 59-63.
- García Higuera, JA Perdoe e peça perdão.
- Maganto, C., Garaigordobil, M. (2010). Avaliação do perdão: diferenças geracionais e diferenças de sexo. Latin American Journal of Psychology, 42 (3), 391-403.
- Prieto-Ursúa, M., Echegoyen, I. (2015). Auto-perdão, auto-aceitação ou restauração intrapessoal? Perguntas abertas na psicologia do perdão. Papers of the Psychologist, 36 (3), 230-237.