A vírgula hiperbática é aquela que é usada quando há uma modificação na ordem sintática dos elementos que compõem uma frase. Como o resto dos tipos de vírgulas, a hiperbática tem o efeito de uma pequena pausa durante a fala. Seu nome se deve ao fato de ser utilizado em frases que apresentam hiperbatonismo.
Justamente, essa figura de dicção consiste na alteração da ordem dos elementos que compõem as proposições. Embora a estrutura mude, eles mantêm seu significado original.
Exemplo de coma hiperbático
O recurso é usado para dar beleza literária às obras. Além disso, pode ser usado para criar ambientes de intriga e aumentar o interesse do leitor ou do público.
Já a vírgula hiperbática - também conhecida como vírgula da desordem - tem a função de apontar os elementos cujas posições foram alteradas dentro da frase.
Assim, na frase Manuel beija Violeta (com estrutura sujeito + verbo + complemento) podem ser especificadas algumas variações hiperbáticas.
Uma dessas variações é conseguida mudando a estrutura para a forma complemento + verbo + sujeito: A Violeta, beijar Manuel. Outra variação pode gerar a estrutura verbo + complemento + sujeito: Besa a Violeta, Manuel. Em cada um pode ser observada a função de sinalização do coma hiperbático.
Caracteristicas
Como já mencionado, o coma hiperbático é usado para marcar a figura literária e diccional conhecida como hiperbaton. Este, por sua vez, consiste em uma alteração sintática que serve para enfatizar os significados em um texto.
Nesse sentido, é muito comum que a sintaxe daqueles conteúdos que manifestam estados de ânimo alterados, conflitos passionais e emoções sejam alteradas para atingir determinados efeitos.
Ao valer-se do hiperbatonista e - portanto - do coma hiperbático, uma produção textual ganha musicalidade, ritmo e expressividade.
Por outro lado, esta figura não aparece geralmente em discursos orais. É quase exclusivamente para o uso da linguagem escrita, e os regulamentos ortográficos obrigam esse casamento entre o hiperbatonista e o coma hiperbático.
Usos do coma hiperbático
A vírgula hiperbática é colocada no final da parte que é antecipada invertendo a ordem regular de uma frase. Isso pode ser visto na frase: Ficando sem munição, o general confirmou sua rendição. Sem o hiperbatonista, a frase permaneceria: O general confirmou sua rendição ficando sem munição.
Precisamente, como no caso anterior, um dos usos mais comuns dessa vírgula é quando a ordem das orações principal e subordinada é invertida.
A inversão de frases preposicionais também é comum. Isso pode ser visto nos seguintes exemplos:
- Não tendo nada a oferecer, ele deixou o local pouco depois.
- Como ele nunca teve o menor remorso, ele nunca pediu perdão.
- Se ele não tivesse decidido sair antes, ele teria testemunhado algo incomum.
- Quanto ao seu dinheiro, não o quero.
Exemplos
Em poesia
Parceiro,
você sabe
que pode contar comigo,
não até dois ou até dez,
mas conte comigo.
Se você alguma vez
perceber
que eu te olho nos olhos
e você
reconhecer um traço de amor em mim,
não alerte seus rifles
nem pense que estou delirando;
Apesar da veia,
ou talvez porque ela exista,
pode contar
comigo.
Se outras vezes
você me achar
mal-humorado sem motivo,
não pense que sou preguiçoso,
pode contar comigo…
(Vamos fazer um trato, Mario Benedetti)
Neste fragmento do poema de Benedetti, o uso do coma hiperbático pode ser notado em três ocasiões. A primeira ocorre no verso: Se você alguma vez / perceber / que eu olho nos olhos dela, / e um raio de amor / reconhecer nos meus, / não alerte seus rifles / ou pense que estou delirando.
Observe que sem a inversão o versículo permaneceria: Não alerte seus rifles nem pense que estou delirando se você alguma vez perceber que te olho nos olhos e você reconhece um traço de amor nos meus.
O segundo caso está na mesma estrofe: apesar da veia, / ou talvez porque ela exista, / pode contar comigo /. Se isso seguisse a ordem natural, seria: Você pode contar comigo apesar do grão ou talvez porque ele existe.
Por fim, o terceiro caso está na terceira estrofe: Se outras vezes / ele me achar / mal-humorado sem motivo, / não pense que ele é preguiçoso / ainda pode contar comigo.
Este versículo sem o hiperbatonista seria: Não pense que você é preguiçoso se outras vezes me achar mal-humorado sem motivo, ainda pode contar comigo.
Em prosa
“« Boa sorte », sussurrou, como faz todos os anos neste dia, e saí de casaco e guarda-chuva, desci seis degraus, contornei a piscina…” (Soma dos dias: Biografia, Isabel Allende)
Neste fragmento da obra de Isabel Allende, observa-se o uso da vírgula hiperbática para marcar a inversão do verbo e seu complemento (objeto direto): "Boa sorte", sussurrou. Desse modo, o escritor dá ênfase ao que é sussurrado e não ao sussurrar.
“Perdi várias coisas em Buenos Aires. Por causa de problemas ou azar, ninguém sabe onde eles acabaram. Saí com algumas roupas e um monte de papéis. Nao reclamo. Com tantas pessoas perdidas, chorar por causa das coisas seria como desrespeitar a dor. " (Dias e noites de amor e guerra, Eduardo Galeano)
Aqui, mais uma vez, o uso desta figura é apreciado: Devido à pressa ou azar, ninguém sabe para onde foram. Ao fazer isso, nesta frase específica, o autor destaca a causa e não a ação.
Além disso, e com o mesmo efeito, o coma hiperbático está presente em Com tanta gente perdida, chorar por causa das coisas seria como desrespeitar a dor.
Referências
- Figuras literárias. (s / f). Hyperbaton. Retirado de figuraliterarias.org.
- Grupo Polochic. (2009). Idioma espanhol. Cidade da Guatemala: Guatemala.
- Schalchli Matamala, L. e Herrera Amtmann, M. (1982). Escrita e soletração. Santiago: Andres Bello.
- Álvarez, A. (2005). Escreva em espanhol. Oviedo: Universidade de Oviedo.
- Penas Ibáñez, MA (2009). Mudança semântica e competência gramatical. Madrid:
Editorial Iberoamericana.
- Kohan, SA (2016). Pontuação para escritores e não escritores. Barcelona: Editorial ALBA.
- Ayuso de Vicente, V.; Silva, HP; Martínez Hurtado FJ e Pérex Tapia. MT (1994). Ensino prático de ortografia (do texto à letra). Madrid: Huerga y Fierro Editores.