- fundo
- A corrida pela áfrica
- Leopold II e a Sociedade Internacional do Congo
- metas
- Chamada para a Conferência de Berlim
- Participantes
- Declaração de intenções
- Acordos
- Liberdade comercial
- Proibição da escravidão e obrigações de poderes
- Uti possidetis iure
- Consequências
- Colonização
- Conflitos
- Consequências para as metrópoles
- Consequências econômicas para as colônias
- Consequências sociais e culturais
- O Massacre do Congo
- Referências
A Conferência de Berlim foi um conjunto de encontros entre as grandes potências europeias da época realizada durante três meses a partir de novembro de 1884. O objetivo fundamental dos participantes nas negociações foi desenvolver um quadro jurídico internacional para levar a cabo a colonização de. África.
França e Inglaterra foram os países que propuseram sua celebração e a Alemanha se ofereceu para organizá-la na cidade que lhe dá o nome. Até aquele momento, os europeus tinham se concentrado em algumas áreas costeiras do continente, sem ir para o interior.
Cartoon about Berlin conference, 1885 - Fonte: zz1y, Journal L'Illustration sob os termos da GNU Free Documentation License
A partir da segunda metade do século 19, isso começou a mudar e começou uma corrida pelos territórios africanos e suas riquezas. As tensões que já existiam entre as várias potências europeias ameaçaram aumentar devido à competição por novas terras. A Conferência de Berlim tentou dar algumas orientações para que a colonização fosse pacífica.
O resultado imediato foi que, com exceção de uma pequena parte do continente, toda a África passou a ser governada por europeus. Para as metrópoles, isso significou poder obter mais matéria-prima e aumentar sua potência. Para os africanos, o resultado foi a criação de fronteiras artificiais e a perda de suas riquezas naturais.
fundo
Apesar de sua proximidade geográfica, o interior do continente africano não havia sido muito explorado pelos europeus até o início do século XIX. Suas poucas tentativas de colonização concentraram-se nas costas, sem tentar entrar.
A partir da segunda metade do século 19, isso começou a mudar. As explorações no interior do continente africano se sucederam e, além disso, a Segunda Revolução Industrial fez com que as potências europeias tivessem que buscar matérias-primas para suas fábricas.
A isto devemos acrescentar dois outros fatores: por um lado, o aumento demográfico na Europa e a conseqüente necessidade de produzir mais alimentos e, por outro, a luta entre as potências europeias pela hegemonia continental.
A corrida pela áfrica
A Grã-Bretanha, lar de alguns dos maiores exploradores, foi uma das primeiras potências a iniciar uma campanha de colonização na África. Logo os franceses se uniram em busca de não perder o poder após a derrota para os prussianos em 1870.
Dois países recém-unificados, Itália e Alemanha, começaram a competir com essas duas potências tradicionais. Por fim, belgas e portugueses também buscaram construir assentamentos coloniais no continente africano.
Esta primeira fase da divisão da África seguiu um método muito simples. Primeiro vieram as empresas comerciais para começar a explorar os recursos. Posteriormente, os respectivos governos enviaram oficiais e militares para evitar qualquer tipo de resistência da população local. No final, uma administração governamental foi estabelecida.
Leopold II e a Sociedade Internacional do Congo
À corrida pela colonização da África juntou-se um competidor com características bastante peculiares: o Rei Leopoldo II da Bélgica. Assim, o monarca não queria que seu país assumisse o controle dos territórios africanos, mas sim sua intenção era apropriar-se pessoalmente dessas terras.
Para isso, ele contratou o explorador britânico Stanley e o enviou ao Congo com a desculpa de introduzir a religião e a civilização na região. A missão do explorador era fazer com que os chefes tribais concordassem em ceder suas terras a Leopold.
O rei belga já havia criado a chamada Associação Internacional do Congo com o objetivo de explorar as riquezas da região em seu nome, sem ficar dependente da Bélgica como país.
O sucesso de Leopold foi uma das causas que levou as potências europeias a convocarem os encontros em Berlim, já que não queriam que novos atores aparecessem na distribuição do continente.
metas
Antes de a Conferência ser convocada, as principais potências europeias, mais Leopold II, já haviam iniciado a colonização da África.
A França, por exemplo, conquistou a Tunísia em 1881 e também criou colônias no oeste do Congo e na Guiné. Por sua vez, a Inglaterra havia assumido o controle do Egito e o comércio exclusivo na Somália e no Sudão.
O início desse processo gerou tensões entre os países europeus, para os quais foi convocada uma conferência para estabelecer normas que permitissem uma colonização pacífica.
Chamada para a Conferência de Berlim
Os primeiros confrontos entre os países colonizadores não tardaram a acontecer. Para tentar evitá-los, França, Inglaterra e algumas nações menos poderosas, como Portugal, solicitaram o início das negociações sobre o assunto.
O chanceler alemão, Otto von Bismarck, ofereceu Berlim para organizar as reuniões, que começaram em 15 de novembro de 1884 e duraram até 26 de fevereiro do ano seguinte.
Participantes
Os países com mais interesses na área que participaram da Conferência de Berlim foram Inglaterra, Alemanha, França, Portugal e Itália. Junto com eles, alguns menos poderosos, mas tentando lucrar, como Holanda, Suécia, Espanha, Rússia e Suécia.
Além disso, dois impérios também participaram das reuniões: o Austro-Húngaro e o Otomano. Por fim, a Associação Internacional do Congo dominada por Leopoldo II da Bélgica completou a lista de negociadores.
Nenhum líder africano foi convidado para a Conferência, nem mesmo os dos países do norte do continente.
Declaração de intenções
A inauguração da Conferência ficou a cargo de Otto von Bismarck, que proferiu um discurso no qual explicou os objetivos da mesma.
Para começar, o chanceler afirmou que os países da Europa devem assumir o controle do interior do continente africano para civilizar seus habitantes, trazer a cultura ocidental e explorar as matérias-primas de seus territórios.
Para o político alemão, isso significou transformar esses territórios em protetorados de países europeus e não apenas enviar missões comerciais ou extrativistas.
Além do exposto, a Conferência estabeleceu objetivos mais específicos. O primeiro, para garantir o livre comércio nas áreas banhadas pelos rios Congo e Níger. Da mesma forma, os participantes deveriam chegar a um acordo sobre as condições que os países colonizadores deveriam cumprir para reivindicar um território.
Acordos
Depois de mais de 3 meses de reuniões, os participantes da Conferência de Berlim redigiram um Ato Geral no qual todos os acordos foram coletados. Esse documento foi assinado em 26 de fevereiro de 1885, dia em que se encerraram as negociações.
A lei contém sete seções diferentes. Eles continham as regras acordadas sobre todos os aspectos da colonização e partição da África.
Embora a Conferência não tenha abordado questões concretas de soberania, ela estabeleceu as condições sob as quais cada potência europeia poderia anexar territórios na África. Desse modo, deu cobertura legal para a colonização de todo o continente, com exceção da Libéria e da Etiópia.
Liberdade comercial
O Ato Geral da Conferência de Berlim declarou que toda a bacia do rio Congo, sua foz e os países por onde passou deveriam permanecer abertos ao comércio para todos os interessados. A seção também incluiu a liberdade de navegação nesse mesmo rio e no Níger.
Ao mesmo tempo, os países que comercializavam naquele território se comprometiam a proteger os povos indígenas, missionários e viajantes, além de defender a liberdade religiosa.
Proibição da escravidão e obrigações de poderes
Os signatários concordaram com a abolição da escravatura em todos os territórios colonizados. Da mesma forma, se comprometeram a manter a paz e aumentar a qualidade de vida da população.
Uti possidetis iure
Dentre os aspectos legais que deveriam regular a colonização, o mais importante era o reconhecimento do princípio da uti possidetis iure ou princípio da ocupação efetiva.
Essa norma legal estabelecia que qualquer país europeu que reivindicasse soberania sobre um território africano deve, em primeiro lugar, demonstrar que já havia estabelecido uma administração eficaz sobre ele.
Para provar essa posse prévia, o país europeu em questão deve ter assinado um tratado com a população da área. Além disso, tinha que provar que já atuava como governo ou, na sua falta, ocupava militarmente a área.
A intenção das potências europeias ao declarar este princípio jurídico era que nenhum país reclamasse um território africano onde não estivesse presente.
Na prática, isso desencadeou a organização de inúmeras expedições militares, comerciais ou diplomáticas à África para estabelecer assentamentos e, posteriormente, para poder reivindicar a soberania.
Consequências
A consequência imediata da Conferência de Berlim foi a aceleração da corrida por posições no continente africano.
Antes do início das reuniões, os europeus controlavam apenas 20% da África. Em poucos anos, apenas dois pequenos países africanos não ficaram sob o domínio das diferentes potências da Europa.
A forma como os europeus dividiram o território africano teve consequências que ainda permanecem. As diferentes metrópoles traçaram fronteiras inteiramente artificiais na África, sem levar em conta as culturas atuais ou as regiões indígenas existentes.
Assim, foram criados 50 novos países sem lhes conferir qualquer tipo de coesão racial ou cultural. No longo prazo, a coexistência de povos tradicionalmente confrontados dentro dessas fronteiras artificiais levou a sérios confrontos, alguns impulsionados diretamente pelas potências coloniais.
Colonização
Os colonizadores penetraram no continente africano seguindo o curso dos grandes rios. Alguns deles já haviam sido explorados nas décadas anteriores, então havia algum conhecimento sobre a geografia da área.
Apesar da intenção da Conferência de Berlim de alcançar a colonização pacífica, rivalidades entre as potências europeias surgiram em partes da África. Um exemplo foi o território banhado pelo rio Congo. As tensões que surgiram obrigaram Bismarck a exercer a arbitragem para decidir seu destino. No final, o chanceler a dividiu entre Leopoldo II e França.
A costa continental norte foi dividida entre ingleses e franceses, enquanto a costa oriental foi deixada em mãos britânicas e alemãs. Por sua vez, a região atlântica foi dividida entre o já citado Leopold II, França e Inglaterra.
Outras antigas potências em declínio, como a Espanha, só conquistaram o Saara Ocidental, a Guiné Equatorial e algumas áreas do Marrocos. Portugal, por sua vez, governava Angola, Moçambique e Cabo Verde, além de outros pequenos territórios.
Por fim, a Alemanha e a Itália, recentemente unificadas, ficaram com a Namíbia e a Somália, respectivamente.
Conflitos
Apesar das disposições do Ato Geral da Conferência, a colonização gerou conflitos entre as potências europeias. Eles estavam centrados na luta pelo controle das áreas mais ricas ou estrategicamente importantes do continente.
Os confrontos mais importantes ocorreram no Norte da África, onde Itália, França e Inglaterra disputavam o controle da Tunísia, Marrocos e Egito. Mais tarde, a Alemanha também entrou nessa disputa. As tensões para obter esses territórios foram uma das causas da Primeira Guerra Mundial.
Consequências para as metrópoles
No início, a colonização da África fez com que as metrópoles enfrentassem um grande investimento econômico. Este dinheiro foi necessário para a construção de infraestruturas que permitissem a exploração das matérias-primas. No entanto, eles logo começaram a ter lucro.
Por outro lado, os territórios coloniais possibilitaram amenizar a crescente pressão demográfica vivida pelas metrópoles, já que a emigração para elas era bastante elevada.
Politicamente, a colonização da África logo se transformou em uma competição entre os países europeus para fortalecer seu poder. Quanto mais territórios eles controlavam, maior sua força contra as outras potências.
Porém, o controle das colônias também trouxe problemas para as metrópoles. Desde muito cedo surgiram movimentos de oposição entre a população local e os colonizadores tiveram que alocar recursos para conter as revoltas.
Consequências econômicas para as colônias
Alguns autores apontam que a colonização da África teve como efeito positivo a construção de infra-estruturas no continente para a exploração de matérias-primas. Assim, foram construídos postos, estradas, linhas ferroviárias e cidades.
O resultado final foi o surgimento da economia de mercado e um aumento do consumo e da produção. Tudo isso foi deixado para os colonizadores, sem que a população local melhorasse muito seu padrão de vida.
Consequências sociais e culturais
A chegada dos colonizadores causou uma grande mudança social no continente africano. As cidades apareceram e a estrutura tribal começou a se decompor.
Uma das consequências foi o surgimento de uma burguesia composta de comerciantes, proprietários e funcionários. Quase todos eram brancos da metrópole.
Na base da pirâmide social estavam os povos indígenas, fossem eles camponeses e trabalhadores industriais.
A divisão social se refletia na segregação dentro das cidades, com bairros totalmente diferenciados por raça e pela riqueza de seus habitantes.
Por outro lado, a colonização também fez com que os povos indígenas perdessem sua cultura. A educação melhorou, embora tenha atingido apenas uma pequena porcentagem da população.
O Massacre do Congo
Embora os confrontos entre colonizadores e indígenas fossem frequentes e muitos causassem grande número de vítimas, todos os historiadores destacam o caso do Congo governado por Leopoldo II.
O rei dos belgas ocupou aquele território antes da Conferência de Berlim. Era uma das áreas mais ricas do continente e permaneceu como propriedade pessoal de Leopoldo e não como colônia de seu país.
O resultado da exploração a que sujeitou os povos da região foi um genocídio genuíno. Os especialistas estimam que cerca de 10 milhões de pessoas morreram, muitas delas após serem torturadas.
Referências
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- Novo africano. Neste dia! Dividindo a África… 133 anos da Conferência de Berlim e sua licença para colonizar. Obtido em newafricanmagazine.com
- Craven, Matthew. Entre o direito e a história: a Conferência de Berlim de 1884-1885 e a lógica do comércio livre. Recuperado de watermark.silverchair.com
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