- Contexto histórico
- A crise do feudalismo
- A secularização da sociedade
- Estrutura da teoria do contrato social
- Estado natural
- Contrato social e vida em sociedade
- Principais representantes do contratualismo
- Thomas hobbes
- John Locke
- Importância do contratualismo
- Referências
O contratualismo ou "teoria do contrato social" é um conceito teórico dentro do campo da filosofia política subjacente à origem da sociedade, à legitimidade do Estado moderno e à legitimidade do exercício político dos governantes dentro de sua estrutura.
É uma corrente de pensamento que estuda a natureza do exercício do poder político, iniciado na Europa do século XVII pela mão de seus pensadores clássicos, os ingleses Thomas Hobbes, John Locke e o francês Jean Jacques Rousseau.
Para o professor Silvino Salej Higgins, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, o contrato social foi uma proposta de solução para reduzir o problema da violência na política e das relações de dominação, por meio do uso de de força ao mínimo possível.
Ao contrário dos modelos políticos criados por Platão e Aristóteles, esta teoria não procurou fornecer a fórmula perfeita e absoluta para um governo pacífico, mas estabeleceu condições mínimas que deveriam ser atendidas para evitar a autodestruição da República.
Os postulados dessa teoria contribuíram para a passagem do pensamento político medieval ao pensamento moderno, uma vez que o exercício do poder político sobre a divindade ou a tradição não se baseia neles - que não dependia do poder de decisão dos indivíduos -, mas com base na razão dos homens.
Contexto histórico
Na época em que surgiram as primeiras teorias contratualistas, uma série de mudanças ideológicas e empíricas estavam ocorrendo no ambiente europeu, dando lugar à modernidade.
É nesse ambiente que nasce a teoria do pacto social. Entre as diferentes mudanças ocorridas podem ser mencionadas:
A crise do feudalismo
O feudalismo passou a ser visto como uma forma de organização política descentralizada e difusa, que deu lugar ao nascimento do Estado moderno.
Isso aconteceu graças ao fortalecimento das monarquias que conseguiram se estabelecer como unidades políticas, detendo o poder centralmente sobre um determinado território, por meio de instituições que constituíam a máquina do Estado.
A secularização da sociedade
Este fenômeno ocorre devido à perda de influência e poder da Igreja Católica. A religião cristã deixou de ser o paradigma que explicava e ordenava todas as áreas da vida.
O Cristianismo foi suplantado pelo humanismo do Iluminismo e suas novas teorias baseadas na racionalidade, emancipação e autonomia pessoal, a revolução científica, entre outras.
Estrutura da teoria do contrato social
Estado natural
A teoria do contrato social começa sua análise a partir da ficção do “estado de natureza”, cenário hipotético ou imaginário utilizado com intenções teóricas, para demonstrar as razões pelas quais a existência do Estado é necessária.
O estado de natureza é o estado em que o homem se encontra em seu estágio original, ao chegar ao mundo e antes da criação da sociedade. A vida do homem no estado de natureza é caracterizada por:
- Cada homem vive por si mesmo, sem se relacionar com os outros por algum mecanismo firme ou duradouro.
- Não há força maior regulatória que imponha qualquer tipo de ordem ou autoridade.
- Cada homem tem liberdade de ação ilimitada, pois não há poder ou autoridade governamental capaz de restringi-los.
- O depoimento acima traz como consequência que o homem enfrenta outros homens, que estão em pé de igualdade com ele por possuírem a mesma liberdade sem restrições.
Esta situação acaba por ser desfavorável à sua sobrevivência, por motivos diversos que variam entre os diferentes autores. Dentre esses motivos, destaca-se o fato de não haver força superior à de todos os homens - uma “terceira” - que garanta as condições necessárias para tal sobrevivência.
Ressalte-se que a visão contratualista considera o homem como um ser racional, que busca seus interesses individuais e atua pautado em sua natureza humana.
Entre os autores clássicos do contratualismo existem diferenças quanto à visão da natureza humana e do comportamento do homem no estado de natureza.
No entanto, todos concordam que o estado de natureza existia em um momento anterior à vida em sociedade e que se caracterizava pelas particularidades descritas acima.
É daí que surge inevitavelmente a necessidade de um pacto social por meio do qual se institua um órgão regulador das relações sociais.
Contrato social e vida em sociedade
Conforme explicado acima, o estado de natureza é um ambiente desfavorável ao homem, pois sua sobrevivência não é garantida diante da ausência de ordem e de sistema de justiça.
Os autores contratuais estabelecem que, diante dessa situação e valendo-se de suas faculdades racionais, os homens formam uma sociedade por meio de um pacto ou contrato social entre si, para enfrentar a instabilidade e a ameaça do estado de natureza.
Nesse pacto social, os homens racionais estabelecem todas as regras que vão reger a vida em sociedade e que vão constituir sua estrutura. Nessa estrutura, o poder político é um eixo central das relações sociais.
Os termos deste contrato variam entre os diferentes autores mas, em geral, todos concordam que é através do contrato social que os homens instituem o Estado, estrutura ou mecanismo que terá por objetivo garantir a ordem e a paz na sociedade.
Assim, é fundamentado que a obediência é devida ao Estado e aos governantes. A comparação entre o estado de natureza e o estado civil é feita para mostrar por que e em que condições o governo e o estado são úteis.
Como resultado dessa utilidade, tanto o governo quanto o estado devem ser aceitos e obedecidos de boa vontade por pessoas razoáveis.
Apoiando-se no consenso dos cidadãos e sendo racionalmente constituído, este Estado seria o único que poderia legitimamente exercer a força para garantir a ordem e a sobrevivência da sociedade.
Principais representantes do contratualismo
Thomas hobbes
Thomas Hobbes foi um filósofo inglês, nascido em 5 de abril de 1588. Para ele, a natureza do homem era egoísta. Ele achava que tinha naturalmente impulsos de sentimentos como competitividade, desconfiança, glória e um desejo incessante de poder.
Por esse motivo, os homens não seriam capazes de cooperar se permanecessem no estado de natureza, mas, ao contrário, prevaleceria "a lei do mais forte", segundo a qual o mais fraco seria subjugado pelo mais forte.
Em um de seus livros mais famosos, "Leviathan" -escrito em 1651-, ele estabelece que no estado de natureza a vida do homem seria "uma guerra de todos contra todos", já que os homens buscariam dominar uns aos outros, guiados por a sua natureza, sem qualquer força maior que imponha uma ordem.
Ou seja, se não houvesse medo de um poder comum capaz de reprimi-los entre os homens, eles desconfiariam constantemente uns dos outros, reinaria um estado generalizado de medo em que nenhum teria sua sobrevivência garantida e a vida do homem seria solitária, pobre, brutal, sujo e curto.
Por tudo isso, para Hobbes, a única maneira de o homem garantir sua sobrevivência e sair desse estado de guerra é por meio da formação de um Estado como produto de um pacto social.
Por outro lado, na vida em sociedade - de acordo com Hobbes - os indivíduos entregam sua liberdade ilimitada ao Estado e ao soberano. Assegura que o Estado estabelecido pode utilizar legitimamente todos os recursos e forças necessários para garantir a paz, sem limites.
O Estado tem poder legítimo absoluto, pois sua função é salvaguardar a vida de seus cidadãos e garantir a paz. Nisso será diferente do que foi estabelecido por Locke.
Thomas Hobbes era um defensor da monarquia absolutista como forma de governo.
John Locke
John Locke foi outro filósofo inglês, nascido alguns anos depois de Hobbes -em 1632-, cuja teoria contratual difere em alguns pontos da teoria hobbesiana.
Para Locke, o estado de natureza é um ambiente no qual reina a razão - não a lei do mais forte -, pois ele considera o homem naturalmente propenso ao bem.
Portanto, descreve o estado de natureza como um estado em que a liberdade e a igualdade reinam entre os homens, porque os direitos à vida e à propriedade são reconhecidos por todos pela lei natural.
O que é inconveniente no estado de natureza para Locke é que não existe uma entidade encarregada de garantir o pleno respeito às liberdades dos homens, em caso de desentendimento entre eles ou ante a ameaça de invasão estrangeira. Portanto, a validade das liberdades naturais do homem é incerta.
Por isso, Locke postula que os homens fazem o pacto social, de forma racional, para estabelecer um Estado que garanta as liberdades de todos, principalmente a propriedade privada.
Opõe-se ao Estado hobbesiano, ao qual são dadas as liberdades dos homens e que goza de poder absoluto.
Locke foi um ferrenho detrator do Estado absolutista, pois para ele a liberdade dos homens é uma das dimensões centrais que o pacto social deve proteger.
Ele defendeu a noção de um Estado com poder limitado, por isso sua doutrina política foi fundamental para o liberalismo. A liberdade natural ameaçada torna-se estado civil e as liberdades garantidas pelo Estado.
Além disso, Locke defendeu o direito do povo à rebelião, uma vez que, caso o Estado abuse de seu poder ou tente escravizar o povo, é o povo que pode julgá-lo fazendo uso desse poder.
É melhor para o bem do povo que eles tenham o poder de resistir a um tirano do que esse tirano goze da liberdade de escravizá-los sem restrições.
Importância do contratualismo
O que distinguia a teoria contratualista de outras doutrinas da época era que ela era uma tentativa de justificar a autoridade política com base no consenso racional e nos interesses individuais.
Além disso, esses autores buscaram demonstrar o valor e o propósito do governo organizado, contrastando as vantagens da sociedade civil com as desvantagens do estado de natureza.
A teoria do contrato social fornece uma justificativa racional para a noção de Estado, em que a autoridade do Estado deriva do consentimento dos governados, expresso por meio de um contrato entre homens.
A ideia de que são os homens que se dão um governo baseado na razão foi fundamental para o desenvolvimento político da modernidade e continua em vigor até hoje.
Referências
- De la Mora, R. (nd). Breve história do pensamento político: de Platão a Rawls. Acessado em 12 de setembro de 2017 na World Wide Web: books.google.com
- Encyclopedia Britannica. Contrato social. Recuperado em 12 de setembro de 2017 na World Wide Web: britannica.com
- Ramírez, J. (2010). Thomas Hobbes e o estado absoluto: do estado de razão ao estado de terror. Acessado em 12 de setembro de 2017 na World Wide Web: books.google.com
- Salej, S. (2002). Leitura comparada dos clássicos do contratualismo político, El Catoblepas, N ° 9, p.5. Acessado em 12 de setembro de 2017 na World Wide Web: nodulo.org
- Wikipedia. Wikipédia, a enciclopédia livre. Recuperado em 12 de setembro de 2017 na World Wide Web: Wikipedia.org