- Origem
- Correntes dentro do Partido Nacional Revolucionário
- Características do cardenismo
- Indigenismo
- Divisão agrária
- Antifascismo
- Impulso cultural e educacional
- Nacionalizações
- Economia
- Reforma agrária
- Nacionalização das ferrovias
- Nacionalização da indústria do petróleo
- Sociedade
- Promoção da educação
- Saúde
- criticas
- Consequências
- Consequências da nacionalização do petróleo
- Reforma agrária
- Reestruturação do partido no poder
- Referências
O cardenismo foi um movimento político associado à figura do presidente mexicano Lázaro Cárdenas, que governou o país entre 1934 e 1940. Essa presidência foi caracterizada por reformas em todas as áreas, desde o social ao cultural, passando pelo político e o econômico.
Lázaro Cárdenas conquistou o apoio da classe trabalhadora mexicana por meio de leis como a distribuição de terras, além de oferecer aos sindicatos uma maior participação na vida política do país. Da mesma forma, o Cardenismo procurou melhorar as condições dos povos indígenas e legislou para que seus direitos fossem respeitados.
Lázaro Cárdenas em 1937 - Fonte: Doralicia Carmona Dávila
A educação foi outra das prioridades do governo Cárdenas. Assim, o sistema educacional tornou-se secular, obrigatório até os quinze anos e gratuito. Por outro lado, o México se posicionou contra o fascismo que estava surgindo na Europa e se tornou um país anfitrião para muitos exilados espanhóis que fugiam da guerra civil
O Cardenismo manteve uma abordagem nacionalista e socialista da economia. Sua medida mais importante foi a nacionalização da indústria do petróleo, algo que causou muitos atritos com países como Estados Unidos ou Grã-Bretanha.
Origem
Lázaro Cárdenas del Río, promotor do cardenismo
As duas primeiras décadas do século 20 no México foram marcadas pela Revolução. Tudo começou com o objetivo de acabar com o Porfiriato, governo chefiado por Porfírio Díaz que estava no poder há mais de 30 anos.
A derrubada de Díaz em 1911 não trouxe estabilidade ao país. Além da ditadura imposta por Huerta, os próprios líderes revolucionários lutaram entre si para impor suas posições. Um dos acontecimentos mais importantes deste período foi a proclamação da Constituição de 1917.
Os historiadores consideram que a revolução terminou em 1920, embora tenha sido apenas quatro anos depois que o país começou a se estabilizar. Assim, em 1924, o militar Plutarco Elías Calles chegou à presidência e não hesitou em usar as armas e dar ao exército mais poder para acabar com as tensões políticas.
Plutarco Elías Calles
Correntes dentro do Partido Nacional Revolucionário
O Partido Nacional Revolucionário (PNR), fundado por Plutarco Elías Calles, se dividiu em duas correntes internas em 1933. Uma delas era formada pelos partidários da continuidade da política de Calles, enquanto na outra havia quem exigia uma renovação. Esta última facção era liderada pelo General Lázaro Cárdenas.
As ideias de Cárdenas, que seriam a base do Cardenismo, baseavam-se em dar poder aos civis e relegar aos militares. Além disso, tinham forte componente social, operário e indígena.
Por fim, Cárdenas conseguiu prevalecer dentro do partido. Em 1934, foi eleito presidente do México para um mandato de seis anos. Neste vídeo você pode ver o protesto de Cárdenas como presidente do México:
Características do cardenismo
O Cardenismo promoveu uma transformação do PNR para dar mais representação aos trabalhadores e camponeses. Sua intenção era, além de obter o apoio desse setor, neutralizar a força que os militares tradicionalmente possuíam.
Indigenismo
O cardenismo tinha o indigenismo entre seus princípios ideológicos. Embora com um resultado que não atingiu os desejados, o governo buscou melhorar as condições de vida dos grupos indígenas mexicanos.
Para isso, buscou promover sua integração e disponibilizar avanços técnicos, protegendo sua cultura.
Divisão agrária
A grande desigualdade na distribuição de terras foi um dos grandes problemas do México desde sua independência. Além disso, Porfírio elaborou leis que permitiam que estrangeiros confiscassem grandes propriedades.
O cardenismo fazia parte da tradição agrária de Emiliano Zapata. Uma de suas primeiras medidas foi expropriar as fazendas que estavam em mãos estrangeiras e, a partir daí, realizar uma política de distribuição de terras aos camponeses.
Emiliano Zapata
Antifascismo
Lázaro Cárdenas era categoricamente contra o fascismo que crescia na Europa. Seu governo condenou as várias invasões nazistas, bem como o colonialismo japonês na China.
No entanto, seu gesto mais importante foi abrir as fronteiras mexicanas para receber os exilados políticos espanhóis que fogem das tropas de Franco.
Impulso cultural e educacional
A promoção da cultura e da educação foram dois dos pontos programáticos mais importantes do Cardenismo.
Cárdenas veio reformar a constituição para tornar a educação, que chamou de socialista, laica e obrigatória. Apesar das reclamações da Igreja, o controle da educação pública passou para o Estado.
Nacionalizações
A ideologia econômica do Cardenismo mesclava o nacionalismo com alguns aspectos do socialismo. Assim, ele se aprofundou nos expressos no artigo 27 da Constituição de 1817 para declarar que a riqueza do subsolo deveria permanecer em mãos mexicanas.
Com este artigo, o governo nacionalizou a indústria do petróleo, com a qual o Estado se responsabilizou por todo o processo produtivo e comercial. Neste vídeo você pode ouvir uma fala de Cárdenas sobre a desapropriação:
Da mesma forma, também nacionalizou as Ferrovias Nacionais do México, então em mãos de empresas estrangeiras.
Economia
A política econômica do Cardenismo era baseada no nacionalismo econômico. Sua principal característica era colocar o interesse nacional antes do privado. Legalmente, esse princípio já estava expresso na Constituição de 1917, especificamente no artigo 27.
Reforma agrária
Depois de expropriar as grandes propriedades que estavam em mãos de estrangeiros, o governo empreendeu um plano de distribuição das terras entre os camponeses. Durante o mandato de Cárdenas, foram distribuídos cerca de 20 milhões de hectares, com o objetivo de acabar com a cultura agrária tradicional mexicana baseada na grande propriedade.
O governo fundou em 1938 um organismo para realizar a distribuição: a Confederação Nacional dos Camponeses. Da mesma forma, concedeu ajuda econômica aos trabalhadores rurais.
Nacionalização das ferrovias
Dentro de sua política econômica nacionalista, o Cardenismo também nacionalizou a malha ferroviária. A situação da Companhia Ferroviária Nacional era péssima, com uma dívida que não parava de crescer. A desvalorização do peso também tornou o pagamento cada vez mais difícil.
A resposta de Cárdenas foi expropriar a participação de capitalistas estrangeiros. Em 23 de julho de 1937, toda a rede estava nas mãos do Estado.
Nacionalização da indústria do petróleo
O ponto mais importante da política econômica do governo Cárdenas foi, sem dúvida, a nacionalização da indústria do petróleo.
Por algum tempo, o sindicato que agrupava os trabalhadores do setor exigia o pagamento de seus salários e benefícios, já que as empresas estrangeiras responsáveis lhes deviam muito dinheiro.
Apesar de os tribunais terem decidido a favor dos trabalhadores, as empresas recusaram-se a cumprir as sentenças. Em 1937, o presidente optou por nacionalizar toda a indústria do petróleo.
A reação dos britânicos e americanos, países de onde provinha a maioria das empresas que controlavam o petróleo mexicano, foi ameaçar o governo com bloqueios e outras represálias. Embora a Segunda Guerra Mundial tenha permitido que os Estados Unidos e o México chegassem a um acordo, com a Grã-Bretanha foi muito mais complicado.
Cárdenas, por sua vez, criou uma empresa estatal para assumir a exploração dos hidrocarbonetos: a Petróleos Mexicanos (Pemex).
Sociedade
O Cardenismo obteve grande apoio em diversos setores sociais, principalmente entre os trabalhadores de todos os setores, assim como os indígenas. A Igreja, por outro lado, manteve um relacionamento bastante bom, apesar dos confrontos pelo controle do sistema educacional.
Promoção da educação
O sistema educacional que o Cardenismo implantou no país foi denominado socialista. Entre suas prioridades estava a melhoria da educação das classes trabalhadoras e camponesas.
A reforma que ocorreu também pretendia acabar com a influência da Igreja na educação. Isso, a longo prazo, deve significar uma grande mudança social em um país tão católico como o México.
O governo Cárdenas legislou para que a educação seja gratuita, laica e obrigatória até os 15 anos. Isso resultou em um grande aumento nas taxas de alfabetização nas áreas rurais.
Outra medida que buscou mudar a sociedade a partir da educação foi a distribuição de livros que refletissem a diversidade étnica do país. Até então, a atenção só tinha sido dada aos brancos.
Saúde
A saúde era outra das áreas de interesse do Cardenismo. Como em outros aspectos, a intenção era melhorar o atendimento aos mais desfavorecidos, para os quais o governo implementou programas específicos.
criticas
Nem todos os setores sociais apoiaram o trabalho do governo. Além dos latifundiários e das classes altas, também houve críticas de grupos ideologicamente mais próximos do presidente. A principal reclamação era que o Cardenismo havia traído o espírito da Revolução e implementado uma política populista.
Consequências
Apesar de Cárdenas, como todos os presidentes, ter seus apoiadores e detratores, é geralmente reconhecido que ele foi o único presidente do PNR que não enriqueceu graças ao seu cargo.
Ao deixar a presidência, o promotor do Cardenismo se dedicou a promover novos projetos e foi nomeado ministro da Educação e Saúde por um período.
Consequências da nacionalização do petróleo
Quando o governo mexicano nacionalizou o petróleo, as reações das potências com as empresas do setor não esperaram. A Grã-Bretanha rompeu prontamente as relações diplomáticas e ameaçou bloquear o país.
Por sua vez, os Estados Unidos, apesar das primeiras reivindicações, preferiram manter melhores relações, pois buscaram o apoio mexicano em face da iminente Segunda Guerra Mundial. Assim que estourou o conflito, o presidente dos Estados Unidos preferiu ficar com o petróleo que o México poderia fornecer a defender as empresas prejudicadas pela nacionalização.
A decisão de Cárdenas encontrou grande apoio entre a população do país. Não só aderiram os partidários de seu partido, mas muitos outros setores normalmente críticos, como a própria Igreja Católica.
Reforma agrária
As medidas de distribuição de terras não fizeram desaparecer as grandes propriedades, embora tenham reduzido sua importância. Quando o Cardenismo saiu do poder, algumas das terras desapropriadas foram devolvidas aos seus antigos proprietários.
Os dados disponíveis mostram que a decisão de Cárdenas não causou redução na produção. Na verdade, aumentou 50%, enquanto o consumo de produtos nacionais foi aumentando aos poucos.
Por outro lado, o compromisso com os ejidos camponeses permitiu uma melhoria da qualidade de vida no meio rural.
O aspecto negativo é que o plano de Cárdenas de formar tecnicamente os camponeses não conseguiu eliminar o atraso das áreas rurais em relação às urbanas.
Reestruturação do partido no poder
Como observado, Lázaro Cárdenas reorganizou seu partido, que passou a se chamar Partido da Revolução Mexicana. Nessa nova estrutura, todos os tipos de grupos sociais tinham lugar, como camponeses, trabalhadores ou militares.
As eleições de 1940 foram vencidas por Manuel Ávila Camacho, também da PRM. No entanto, ele preferiu acabar com o Cardenismo e renomear seu grupo político. Assim nasceu o Partido Revolucionário Institucional, que governou o México por várias décadas consecutivas.
Manuel Ávila Camacho e Franklin D. Roosevelt (1960)
Referências
- Infogram. Cardenismo e a consolidação do atual Estado mexicano. Obtido em infogram.com
- Comerciante de Anaya, Luis. Cardenismo na Revolução Mexicana; conflito e competição em uma historiografia viva. Recuperado de historiamexicana.colmex.mx
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- Alexander, Robert J. Lázaro Cárdenas. Obtido em britannica.com
- Minster, Christopher. Lázaro Cárdenas del Rio: o Sr. Limpo do México. Obtido em Thoughtco.com
- Carmona Dávila, Doralicia. O PNR se torna o Partido da Revolução Mexicana. Obtido em memoriapoliticademexico.org
- Cavaleiro, Alan. Cardenismo: Juggernaut or Jalopy?. Recuperado de latinamericanstudies.org
- Biblioteca do Congresso dos EUA. Cardenismo e a Revolução reacendeu Recuperado de countrystudies.us