- Origem do cientificismo
- Mudanças na educação
- Uso do termo
- Características do cientificismo
- Limitações
- Empirismo
- Representantes
- Mario Bunge (1919)
- Marquês de Condorcet (1743-1794)
- Exemplos de cientificismo
- Peter Atkins: ideia da existência do universo
- Reivindicações sem verificação científica
- Referências
O cientificismo se refere à crença de que o método científico pode ser aplicado a qualquer problema de outras disciplinas que não estejam relacionadas ou sejam diferentes das ciências positivas.
Parte da ideia de que a ciência é a única forma de obter conhecimento de forma genuína. Afirma que o caminho científico é o único caminho disponível para alcançar conhecimentos válidos.
Por sua vez, a ciência positiva é aquela que se orienta para o estudo de uma realidade empírica, isto é, aquela que se baseia na experiência, para gerar hipóteses e interpretações que devem ser validadas ou verificadas por meio da experimentação. Muitas das ciências consideradas positivas são naturais, como biologia, matemática, física, química e astronomia.
Múltiplas críticas têm surgido em torno do cientificismo, por ser considerado uma linha de pensamento radical ou extremista. Parte disso é porque em várias ocasiões pode negar a validade de outros conhecimentos obtidos por meio de outras disciplinas, como filosofia ou religião.
Deve-se notar que o termo cientificismo teve diferentes usos ao longo da história e, em várias ocasiões, pode ser usado como uma forma depreciativa de se referir ao uso impróprio de afirmações científicas.
É importante também levar em consideração que o cientificismo é visto como um campo ou uma posição filosófica relacionada à epistemologia, ou seja, com a busca e validação do conhecimento. Portanto, o cientificismo consiste em afirmações relacionadas e pró-ciência, mas não são afirmações científicas per se.
Origem do cientificismo
Os primórdios do cientificismo como forma de pensamento podem ser situados em meados do século XVI com a revolução científica e o surgimento das "novas ciências", como a matemática e a física modernas.
Os avanços impulsionados por essas descobertas científicas da época, colocaram de lado as questões relacionadas à religiosidade e espiritualidade. A ciência estava começando a ser vista como a oportunidade de criar uma nova visão do mundo.
Durante os séculos 16 e 17, uma nova forma de ver a natureza mudou o conceito científico herdado pelos gregos para uma nova forma de disciplina independente. Assim, a ciência deixaria de estar ligada à filosofia e também passaria a ter um caráter útil para o cumprimento de objetivos da sociedade.
Mudanças na educação
Houve também algumas mudanças na educação. O raciocínio abstrato começou a aparecer como uma nova forma de senso comum, e a natureza também poderia ser vista como uma máquina, em vez de um organismo.
Por outro lado, surge também o desenvolvimento da experimentação, elemento central do método científico, que passa a ser a principal forma de responder a questões e teorias.
Assim, o novo critério para a explicação dos fenômenos estaria orientado a responder ao "como" em vez do "porquê", sendo este último o principal objeto de estudo do pensamento filosófico e aristotélico, até então.
Desse modo, surgem as múltiplas crenças principais do cientificismo, as quais afirmam, por exemplo, que a ciência matemática aparece como um modelo de ciência a partir do qual as outras deveriam ser formadas; também a ideia de que qualquer concepção de realidade que não seja acessível pelo método científico é classificada como irrelevante ou ilusória.
Uso do termo
Embora os primórdios do pensamento que caracterizam o cientificismo datem do século XVI, o termo foi popularizado durante o século XX. Muitos dão o mérito de divulgar o termo ao filósofo e cientista francês Félix Alejandro Le Dantec.
O cientismo tem sido relacionado desde o seu início ao empirismo e positivismo. Baseia-se no valor excessivo que se atribui às ciências naturais às demais áreas do conhecimento e da aprendizagem. Utiliza como suporte o método científico, considerado o único meio de validar teorias e encontrar uma verdade.
Características do cientificismo
O cientismo valoriza o uso do método científico como a única forma de conhecimento genuíno
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-É visto como uma promoção, teoria ou tendência a valorizar as ciências naturais acima das outras disciplinas.
-Embora se expresse a favor do método científico, não está diretamente relacionado com a ciência.
-Suas afirmações não são científicas, mas a favor da ciência e seu método de experimentação.
-Tem por objetivo promover o método científico como única forma de obtenção de conhecimento.
-Sua origem está relacionada com o nascimento das ciências modernas durante os séculos XVI e XVII.
- Tende a rejeitar ou qualificar como ilusórias as explicações que vêm do espiritual, do metafísico e do religioso.
-Relaciona-se ao positivismo por afirmar que o conhecimento científico é o único com caráter autêntico.
Limitações
O cientismo hoje diminuiu a forma arbitrária de estabelecer o método científico acima de todos os processos de obtenção de conhecimento. No entanto, o cientificismo encontrou sua maior limitação em sua própria afirmação de que a ciência experimental é o único caminho para o conhecimento objetivo genuíno.
Com base neste argumento, qualquer ideia ou teoria originada do cientificismo teria que ser submetida a experimentação científica para encontrar alguma validade. Apesar disso, o cientificismo tem sido adotado como uma postura e promoção de argumentos que se baseiam em crenças sobre a ciência que carecem de justificativa científica.
Empirismo
Outro grande fundamento que pode limitar o cientificismo é argumentar que o conhecimento só pode ser alcançado por meio do caminho empírico, ou seja, por meio da experiência.
Se um fenômeno ou causa não pode ser experimentado, de acordo com o cientificismo, então sua existência pode ser negada. Embora realmente possa ser, a experiência nos diz que existem certas questões que não podem ser compreendidas pela experimentação.
Por exemplo, é comum dentro do cientificismo observar qualquer ser vivo como uma máquina cujo funcionamento não depende de entidades como a alma, para a qual se diz que não foi encontrada uma explicação por meio da experimentação científica.
Desse modo, o cientificismo pode até invalidar o conceito de alma, que não só faz parte das crenças religiosas, mas faz parte da filosofia desde os tempos antigos.
Representantes
Mario Bunge (1919)
Ele é um filósofo científico e físico, de origem argentina. Ele é um dos mais conhecidos defensores do cientificismo na contemporaneidade. Ele afirma em seu escrito In Praise of Scientism que esta representa uma alternativa preferível à humanista, uma vez que a ciência é capaz de dar mais resultados.
Para a Bunge, o humanismo oferece alternativas baseadas na tradição, nos palpites, na tentativa e erro. Em vez disso, a ciência leva a um melhor funcionamento porque permite obter verdades objetivas ou impessoais.
Também destaca a capacidade da ciência de crescer exponencialmente por meio de um processo chamado "feedback positivo". Este processo permite que o produto de um procedimento científico seja usado para posterior experimentação.
Marquês de Condorcet (1743-1794)
Também conhecido como Nicolás Condorcet, foi um matemático e filósofo francês cujo trabalho esteve intimamente relacionado com questões como política, moral e economia.
Ele foi um dos escritores mais influentes sobre o assunto do progresso no mundo da ciência e do pensamento esclarecido. Afirmou que o progresso das ciências naturais contribuiu para o progresso de outras ciências relacionadas à moral e à política. Por outro lado, ele também se referiu ao mal dentro de uma sociedade como resultado da ignorância, fator inerente ao ser humano.
Não existem escritos de Condorcet ligados a crenças religiosas ou espirituais. Por sua vez, afirmou que a sua fé está orientada para a humanidade e para a capacidade que o homem possui para progredir. Para ele, o esclarecimento do mundo natural foi o incentivo ao conhecimento sobre o mundo social e político.
Exemplos de cientificismo
O cientificismo é mais uma tendência, teoria ou forma de pensar do que um movimento em si, porém, há muitos que, ao concordar com essa forma de ver a ciência, promovem o pensamento cientificista. O cientificismo pode se refletir na maneira como alguns estudiosos da ciência tendem a se expressar.
Peter Atkins: ideia da existência do universo
Por exemplo, nos escritos de Peter Atkins, um químico de origem inglesa, é mostrado que o universo pode existir sem invocar a ideia de um ser supremo. Dessa forma, refere-se às crenças em um deus como desnecessárias para o tema da criação do universo.
Reivindicações sem verificação científica
Outro caso é o do jornalista político Michael Kinsley, em um de seus artigos publicados pela revista Time em 2001, no qual falava em defesa das pesquisas com células-tronco em embriões humanos. Na carta, ele afirmava que “Esses embriões são grupos microscópicos de algumas células diferenciadas. Não há nada de humano neles, exceto potencial e, se você decidir acreditar, uma alma.
Parte da afirmação do cientista pode ser observada no fato de o jornalista afirmar que não há nada de humano em embriões de origem humana. Uma afirmação sem qualquer verificação científica. Por outro lado, também se expressa a ideia de que a crença na alma é opcional ou pouco influente sobre o assunto.
Em geral, os argumentos científicos têm um caráter de dogma, ou crença que, no entanto, não é qualificado como científico e muitas vezes é visto como uma valorização exagerada da ciência sobre outros aspectos do conhecimento. As afirmações dos cientistas são, na verdade, parte de uma linha de pensamento e não foram comprovadas por meio de experimentos.
Referências
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