- Contexto histórico
- Doutrina Tobar
- Revolução Mexicana
- Constituição de 1917
- Estabelecimento da Doutrina da Estrada
- Fundamentos
- Estados Unidos
- Consequências
- Anos 70
- Referências
A Doutrina da Estrada é a regra fundamental que rege a política externa mexicana desde os anos 30 do século XX. Instituído por Genaro Estrada, secretário de Relações Exteriores do país, estabelece que nenhum país deve se pronunciar sobre a legitimidade de governo estrangeiro.
O México experimentou problemas de reconhecimento desde o momento de sua independência, em 1821. Ao longo de sua história, numerosos governos surgiram de revoluções, golpes de estado ou insurreições, que nem sempre os levaram a obter o reconhecimento oficial de outras nações.
Genaro Estrada - Fonte: sinaloaarchivohistorico, via Wikimedia Commons
Esta situação se repetiu após a Revolução Mexicana, quando os insurgentes conseguiram derrubar o governo de Porfirio Díaz. Principalmente, sempre surgiram problemas com os Estados Unidos, que sempre se opôs a reconhecer governos que pudessem promover políticas progressistas contrárias aos seus interesses.
Desde o estabelecimento da Doutrina, o México não interferiu nas situações internas de outros países, com exceção, por exemplo, do não reconhecimento do governo surgido após o golpe de Pinochet no Chile. Até hoje, embora nas últimas décadas pareça ter sido esquecido, a Doutrina da Estrada ainda está em vigor.
Contexto histórico
A história do México, desde sua constituição como país independente em 1821, caracterizou-se pela formação de governos que emergiram de revoltas, revoluções e / ou contra-revoluções. Por não terem sido eleitos por meios legais, esses governos encontraram muitos problemas para serem reconhecidos por potências estrangeiras.
Na maioria dos casos, um grande esforço diplomático foi necessário para obter o reconhecimento. Além disso, os poderes aproveitaram a necessidade de legitimidade das novas autoridades para obter vantagens econômicas e políticas.
Doutrina Tobar
No início do século 20, o chanceler equatoriano Carlos R. Tobar havia proposto uma doutrina aos demais governos latino-americanos. Assim, em 1907, ele propôs que aqueles que surgissem de levantes revolucionários não fossem reconhecidos como governos legítimos.
Revolução Mexicana
Os governos que emergiram da Revolução Mexicana sofreram com o problema de ter que buscar reconhecimento oficial em outros países. Naqueles anos, era comum a cada mudança de governo o envio de missões diplomáticas em busca de reconhecimento, principalmente dos Estados Unidos.
Além disso, a situação foi agravada pela atitude intervencionista dos EUA. Sua embaixada no México participou de algumas insurreições contra os governos revolucionários.
Um dos exemplos mais conhecidos foi o liderado por Huerta contra o presidente Francisco Madero e seu vice-presidente. Ambos acabaram sendo assassinados.
Constituição de 1917
A Constituição de 1917, promulgada sob a presidência de Venustiano Carranza, exacerbou o problema. A Carta Magna coletou o fim de muitos dos privilégios econômicos que outros países tiveram no México. O país mais afetado foram os EUA.
Isso provocou uma reação dos americanos. Seu governo se recusou a reconhecer o governo mexicano se este não revogasse os artigos que afetavam seus interesses.
Estabelecimento da Doutrina da Estrada
A Doutrina da Estrada foi publicada em 27 de setembro de 1930. Seu nome vem do Secretário de Relações Exteriores durante a presidência de Pascual Ortiz, Genaro Estrada. A regra foi divulgada em comunicado público.
Como principal contribuição, a Doutrina da Estrada estabelecia que nenhum governo precisava do reconhecimento de outros países para assumir sua própria soberania. A partir dessa afirmação, houve uma rejeição absoluta a qualquer tipo de intervenção estrangeira nos assuntos do governo de outro país.
Fundamentos
As bases que sustentaram a Doutrina da Estrada foram o princípio da não intervenção e o direito à autodeterminação dos povos. Assim, apoiou um conceito fechado de soberania nacional, pois estabeleceu que nenhum governo estrangeiro deveria julgar as mudanças governamentais ocorridas em outras nações.
Os especialistas resumem os princípios fundamentais da Doutrina da Estrada em cinco pontos distintos: autodeterminação, não intervenção, direito de asilo político, reconhecimento de governos de fato e condenação de guerras de agressão.
A declaração com a qual o Itamaraty tornou pública a doutrina indicava o seguinte:
“O governo do México não reconhece porque considera que esta prática é degradante, pois além de ferir a soberania de outras nações, as coloca no caso de que seus assuntos internos possam ser qualificados em qualquer sentido por outros governos”
Da mesma forma, ele explicou qual seria o comportamento mexicano daquele momento em diante:
“O governo mexicano só se limita a manter ou retirar, quando julgar conveniente, seus agentes diplomáticos, sem qualificar precipitadamente, ou a posteriori, o direito das nações de aceitar, manter ou substituir seus governos ou autoridades”.
Estados Unidos
Embora o comunicado fosse muito geral, a maioria dos historiadores aponta que a doutrina foi dirigida principalmente aos Estados Unidos, cuja política internacional era muito intervencionista. Assim, já havia negado o reconhecimento a alguns governos, especialmente aqueles que emergiram de processos revolucionários.
Os Estados Unidos estabeleceram sua própria doutrina de relações internacionais no século XIX. Era conhecida como Doutrina Monroe, o nome do presidente que a promulgou. Com isso, os Estados Unidos promoveram a não intervenção das potências europeias na América, ao mesmo tempo em que reforçaram sua posição privilegiada.
A Doutrina Monroe se resume na conhecida máxima "América para os americanos". Os especialistas apontam que, quando Monroe falou dos americanos, ele se referia apenas aos americanos.
Consequências
Como mencionado acima, a Doutrina da Estrada foi promulgada em 27 de setembro de 1930. Estrada não escolheu a data ao acaso, pois era o aniversário da consumação da independência do país.
O México logo começou a divulgar sua posição sobre a prática do reconhecimento internacional. Um dos exemplos mais claros foi quando rejeitou a expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos. O motor desta tentativa de expulsão foram os Estados Unidos, movidos pela rejeição da revolução cubana.
Anos 70
A década em que o México mais usou a Doutrina da Estrada foi a dos anos 70 do século XX. Como regra geral, o país só reagiu às mudanças de governo retirando ou mantendo suas embaixadas.
Historiadores afirmam que a última vez que foi aplicada ininterruptamente foi durante o governo de Vicente Fox. O motivo foi o golpe contra o governo de Hugo Chávez na Venezuela, em abril de 2002.
A primeira vez que a Doutrina da Estrada foi posta de lado foi em 2009. Em junho, houve um golpe em Honduras e Felipe Calderón, presidente mexicano, apoiou o governo deposto.
Apesar disso, em teoria a Doutrina da Estrada continua em vigor como regra central da política externa mexicana.
Referências
- López Betancourt, Eduardo. Estrada Doutrina. Obtido em lajornadaguerrero.com.mx
- Definição ABC. Definição de Doutrina Estrada. Obtido em definicionabc.com
- Guzmán, Andrea. O que é a doutrina Estrada e o princípio da não intervenção. Obtido em culturacolectiva.com
- Irwin Law. Doutrina de estrada. Obtido em irwinlaw.com
- Revolvy. Estrada Doutrina. Obtido em revolvy.com
- Enciclopédia de História e Cultura da América Latina. Estrada Doutrina. Obtido em encyclopedia.com
- Walls, Martin. Estrada Doutrina. Obtido em elp.net