MEMÓRIA OLFATIVA: COMO CHEIROS DESPERTAM MEMÓRIAS - NEUROPSICOLOGIA - 2025

A memória olfativa se refere à memória dos odores. Os cheiros podem nos trazer muitas memórias. Isso ocorre porque o bulbo olfatório, que é uma região do sistema nervoso central que processa as informações sensoriais do nariz, faz parte do sistema límbico.

Como o sistema límbico é uma área intimamente associada à memória e às emoções, os cheiros podem evocar memórias e desencadear respostas fortes quase que imediatamente.

Como se forma a associação entre cheiros e memórias?

O bulbo olfatório tem acesso à amígdala, que processa as emoções, e ao hipocampo, estrutura responsável pelo aprendizado associativo. Apesar das conexões entre as estruturas, os cheiros não evocariam memórias se não fosse pelas respostas condicionadas que se formaram ao longo do tempo.

Quando você cheira algo pela primeira vez, você inconscientemente o vincula a um evento, uma pessoa, um objeto, um tempo ou um lugar. Seu cérebro estabelece uma ligação entre o cheiro e a memória, associando, por exemplo, o cheiro do cloro com o verão ou o cheiro dos lírios com os funerais.

Bulbo olfativo

Quando você encontra o perfume novamente, o vínculo já está formado e pronto para evocar uma memória ou até mesmo um clima. O cheiro de cloro pode fazer você se sentir feliz, pois lembra os momentos de verão na piscina com seus amigos.

Lírios, entretanto, podem deixá-lo inexplicavelmente melancólico. Em parte, é por isso que nem todos preferem os mesmos cheiros: por pura associação.

Visto que encontramos a maioria dos novos cheiros durante nossa infância e juventude, os cheiros costumam evocar memórias de infância. No entanto, realmente começamos a fazer associações entre cheiros, emoções e memórias antes mesmo de nascermos.

Crianças que foram expostas ao álcool, fumaça de tabaco ou alho no útero de suas mães geralmente mostram preferência por esses odores. Para eles, cheiros que podem incomodar outros bebês parecem normais ou mesmo agradáveis.

O papel da amígdala

A amígdala é uma estrutura do cérebro em forma de amêndoa que processa tudo relacionado às nossas reações emocionais. É uma das áreas mais primitivas do cérebro humano.

Também está associado às memórias e à memória em geral, uma vez que muitas de nossas memórias estão relacionadas a alguma experiência emocional.

Uma década atrás, Rachel Herz, uma especialista em psicologia do olfato, e seus colegas da Brown University testaram se havia uma correlação entre a intensidade emocional de uma memória desencadeada por um cheiro e a ativação da amígdala.

Os participantes primeiro descreveram uma memória positiva desencadeada por um determinado perfume. Depois disso, eles foram para o laboratório para participar de um experimento de ressonância magnética funcional.

Os participantes foram expostos a várias sequências de estímulos visuais e olfativos. As dicas visuais incluíram uma imagem do perfume que o participante escolheu e uma imagem de um perfume sem marca. O estímulo olfativo incluiu o perfume escolhido pelo participante e o perfume sem marca.

Se o estímulo suscitasse alguma memória ou emoção, os participantes eram instruídos a mantê-lo em mente até que o próximo estímulo fosse apresentado.

Quando os participantes cheiraram o perfume que escolheram, foi quando mostraram maior ativação na amígdala e no giro para-hipocampal (região que circunda o hipocampo).

Esses dados sugerem que cheiros que evocam fortes memórias emocionais também causam atividade intensificada em áreas do cérebro fortemente relacionadas às emoções e à memória.

Porém, é importante saber que participaram deste estudo apenas cinco pessoas, todas mulheres. Estudos com uma amostra maior de participantes, envolvendo homens e mulheres, são necessários para confirmar esses achados.

Vários estudos comportamentais mostraram que os cheiros desencadeiam memórias emocionais mais vívidas e são melhores em induzir aquela sensação de "ser transportado para o passado" do que as imagens.

No entanto, existem poucos estudos, desde o de Herz e seus colegas, que exploraram a relação entre o cheiro e a memória autobiográfica em um nível neural.

Cheiro e emoções

A percepção dos cheiros não é apenas senti-los, mas também as experiências e emoções associadas a essas sensações. Os cheiros podem provocar reações emocionais muito fortes.

Em pesquisas de reações a alguns odores, as respostas mostram que muitos de nossos sabores olfativos são baseados puramente em associações emocionais.

Embora haja evidências convincentes de que fragrâncias agradáveis ​​podem melhorar nosso humor e sensações de bem-estar, algumas dessas descobertas devem ser vistas com cautela.

Alguns estudos recentes mostraram que nossas expectativas em relação a um odor, em vez dos efeitos diretos da exposição a ele, podem ser responsáveis ​​pelas melhorias no humor e pelos benefícios para a saúde relatados.

O efeito da sugestão e do placebo

Em um experimento, os pesquisadores descobriram que simplesmente informar aos indivíduos que um odor agradável ou desagradável estava sendo administrado (que eles podem nem ser capazes de perceber) alterou seus autorrelatos sobre seu humor e bem-estar.

Apenas mencionar um cheiro agradável reduziu os relatos de problemas de saúde e aumentou os relatos de humor positivo. Esses achados sugerem que essas melhorias podem ser devidas a um efeito placebo.

No entanto, resultados mais confiáveis ​​foram encontrados em experimentos usando placebos na forma de sprays sem qualquer odor. Esses estudos mostraram que, embora os sujeitos respondam um pouco a placebos inodoros do que o que eles pensam ser fragrâncias, o efeito do perfume real é significativamente maior.

Pensar em perfumes agradáveis ​​pode ser o suficiente para fazer você se sentir um pouco mais alegre, mas o cheiro real pode ter efeitos dramáticos em melhorar seu humor e sensação de bem-estar.

Embora a sensibilidade olfativa diminua à medida que envelhecemos, descobriu-se que cheiros agradáveis ​​têm efeitos positivos sobre o humor em qualquer idade.

Os efeitos dos cheiros na nossa percepção

Os efeitos emocionais positivos que os cheiros têm também afetam nossa percepção de outras pessoas.

Em um experimento, os sujeitos que foram expostos a fragrâncias que consideraram agradáveis ​​tenderam a dar "pontuações de atratividade" mais altas nas pessoas que apareciam nas fotos que lhes eram mostradas.

No entanto, alguns estudos mais recentes mostram que esses efeitos só são significativos quando há alguma ambigüidade nas fotos. Se a pessoa na foto é claramente muito atraente ou, ao contrário, extremamente feia, a fragrância geralmente não afeta nosso julgamento.

No entanto, se a pessoa tiver apenas um “nível médio de atratividade”, uma fragrância agradável fará com que a balança de nossa avaliação penda a seu favor. Desse modo, os modelos atraentes que são usados ​​para anunciar perfumes provavelmente não precisam disso, mas o resto de nós pode se beneficiar de um spray que cheira bem.

Os odores desagradáveis ​​também podem influenciar nossas percepções e avaliações. Em um estudo, a presença de um odor desagradável fez com que os sujeitos não apenas avaliassem piores os indivíduos nas fotos, mas também julgassem alguns desenhos que lhes eram mostrados como menos profissionais.

Cheiros positivos também podem ter efeitos negativos

Os efeitos dos cheiros positivos de melhorar o humor, entretanto, às vezes funcionam contra nós: aumentando nossas percepções e emoções positivas, os cheiros agradáveis ​​podem turvar nosso julgamento.

Em um experimento em um cassino de Las Vegas, a quantidade de dinheiro ganho em uma máquina caça-níqueis aumentou 45% quando o local foi perfumado com um aroma agradável.

Em outro estudo, um shampoo que os participantes classificaram em último lugar nos resultados gerais em um teste inicial foi classificado em primeiro lugar em um segundo teste, após alterar seu odor.

Em outro teste, os participantes relataram que o shampoo era mais fácil de enxaguar, melhor aplicado e deixava o cabelo mais brilhante. Apenas a fragrância do shampoo havia sido alterada.

Preferências de perfume

As preferências de cheiros são frequentemente um assunto pessoal, relacionado com memórias e associações específicas.

Por exemplo, em uma pesquisa, as respostas à pergunta "quais são seus cheiros favoritos?" incluía muitos odores que geralmente são vistos como desagradáveis ​​(como o cheiro de gasolina ou a transpiração do corpo). No entanto, alguns cheiros normalmente percebidos como agradáveis ​​(como o cheiro de flores) receberam respostas muito negativas de alguns participantes.

Essas preferências foram explicadas pelas experiências (boas ou ruins) que as pessoas tiveram e associadas a cheiros específicos. Apesar das peculiaridades desses indivíduos, é possível fazer algumas generalizações significativas sobre as preferências olfativas.

Por exemplo, os experimentos até agora mostraram que temos uma tendência a gostar do que sabemos: as pessoas dão notas mais altas sobre o quão agradável elas acham um odor que são capazes de identificar corretamente.

Existem também algumas fragrâncias que parecem ser universalmente percebidas como agradáveis, como a baunilha, um ingrediente cada vez mais popular em perfumes que há muito tem sido um "perfume agradável padrão" em experimentos psicológicos.

Uma observação para os comerciantes de perfumes: um dos estudos que mostra nossa tendência a preferir fragrâncias que possamos identificar corretamente também mostrou que usar uma cor apropriada pode nos ajudar a fazer uma identificação correta, aumentando nosso gosto por perfume.

O cheiro de cerejas, por exemplo, foi identificado com mais frequência com precisão quando foi apresentado com a cor vermelha, e a capacidade dos participantes de identificar o cheiro enriqueceu significativamente as pontuações que deram.

Cheiros e produtividade aumentada

Você já pensou em perfumar seu ambiente de trabalho, sua escola ou universidade? A priori, pode parecer bobo. No entanto, os odores também podem afetar a produtividade do trabalho, além de influenciar o humor, Rachel Herz aponta que um número crescente de estudos mostra que o humor positivo está ligado ao aumento da produtividade, execução e uma tendência de ajudar outras pessoas, enquanto o humor negativo reduz os comportamentos pró-sociais.

Notavelmente, o comportamento pró-social e a produtividade também são enriquecidos na presença de odores ambientais agradáveis. Por exemplo, em um experimento, pessoas que foram expostas ao cheiro de biscoitos no forno ou café sendo feito tinham mais probabilidade de ajudar um estranho do que pessoas que não haviam sido expostas à manipulação olfativa.

Da mesma forma, pessoas que trabalharam na presença de um purificador de ar que cheirava bem também relataram maior autoeficácia no trabalho. Além disso, eles definiram metas mais altas e tendiam a empregar estratégias de trabalho mais eficientes do que os participantes que trabalhavam sem odores.

Cheiros ambientes agradáveis ​​também aumentam o estado de alerta durante uma tarefa tediosa e melhoram o desempenho em testes de conclusão de palavras.

Ao contrário, a presença de odores considerados negativos reduziu os julgamentos subjetivos dos participantes e diminuiu seus níveis de tolerância à frustração. Os participantes desses estudos também relataram que tinham mudanças de humor concordantes.

Portanto, pode-se concluir com mais ou menos segurança que as respostas comportamentais observadas são devidas ao efeito dos purificadores de ar no humor das pessoas.

Algumas das fragrâncias que parecem aumentar a produtividade no trabalho são o cheiro de limão, lavanda, jasmim, alecrim e canela.

Então agora você sabe: os cheiros influenciam o humor, o desempenho no trabalho e outras formas de comportamento por meio de associações aprendidas, especialmente emocionalmente.