- Em que consiste?
- Tipos de preparações que podem ser administradas
- Opções de administração
- Gotejamento contínuo
- Administração de boliche
- Técnica de administração
- Protocolo de administração contínua
- Protocolo de administração de bolus
- Complicações
- Complicações relacionadas à colocação do tubo
- Complicações derivadas da permanência da sonda
- Complicações associadas ao processo de alimentação
- Cuidado
- Referências
A gastroclise é um procedimento destinado a alimentar por via enteral (trato digestivo) pessoas que, por razões médicas, não podem comer pela boca. Aplica-se a pessoas com doenças neurológicas graves, como AVC (acidente cerebrovascular), enfarte cerebral, esclerose lateral amiotrófica ou doentes com Alzheimer avançado.
Da mesma forma, pode ser necessária a alimentação de pacientes em uso de gastróclise em casos de câncer de cabeça e pescoço, cirurgia de esôfago, fraturas de mandíbula que necessitem de cerclagem, trauma cervical que envolva o trato digestivo e mesmo em casos de tumores de esôfago e gástrico que bloqueiem a trânsito de alimentos pelo trato digestivo.
Em que consiste?
A gastrocálise consiste na colocação de um tubo de alimentação pelo nariz e no estômago. Para isso, são utilizados tubos longos especiais, conhecidos como tubos de Levine, que são projetados para permanecer no trato digestivo superior por muito tempo.
Embora possam ser colocados às cegas, na maioria das vezes são realizados sob fluoroscopia; ou seja, em radiografias contínuas (como um filme) para garantir que a ponta da sonda chegue ao estômago ou ainda mais, ao duodeno, quando o estado clínico do paciente assim o exigir.
Uma vez in situ, a administração de preparações enterais pode ser iniciada através da sonda de alimentação.
Como a primeira etapa da digestão (mastigação e insalivação) é omitida por meio dessa via de alimentação, e considerando que os alimentos sólidos podem obstruir a sonda, em geral, são escolhidas preparações especiais de líquido a líquido-denso.
Tipos de preparações que podem ser administradas
Quando a ponta da sonda está no estômago, pode-se optar por alimentos de consistência líquida como sopas, sucos, leite e até alguns smoothies claros, pois o alimento administrado chegará ao estômago e aí iniciará um processo de digestão mais ou menos normal.
Porém, quando por alguma condição a ponta da sonda deve avançar para o duodeno (como nos casos de câncer de estômago e câncer de cabeça do pâncreas), não é mais possível administrar este tipo de alimento devido ao segundo estágio do a digestão (gástrica) também é contornada.
Nestes casos, deve ser administrada uma série de preparações especiais conhecidas como dieta enteral, que consiste em um preparo alimentar constituído de macromoléculas de glicose, lipídios e aminoácidos.
Conforme o caso, é muito importante que o nutricionista calcule tanto a ingestão calórica quanto o esquema de administração.
Opções de administração
A alimentação por gastróclise pode ser feita de duas formas: gotejamento contínuo ou bolus.
Gotejamento contínuo
O gotejamento contínuo consiste na administração do alimento por gastróclise de forma contínua, gota a gota, ao longo de 6 a 8 horas, após o que o preparo é trocado por um novo.
O objetivo é que o paciente receba um suprimento contínuo de calorias e nutrientes sem sobrecarregar o trato digestivo ou o metabolismo.
Este tipo de esquema é freqüentemente usado em pacientes muito graves, especialmente aqueles hospitalizados em enfermarias de terapia intensiva.
Administração de boliche
Este é o esquema de administração mais fisiológico, uma vez que se assemelha à maneira como os humanos costumam comer.
Com esse esquema, são planejadas de 3 a 5 sessões de alimentação por dia, durante as quais é administrada através da sonda alimentar uma quantidade definida pelo nutricionista, tanto calorias quanto líquidos.
Cada sessão de alimentação dura geralmente entre meia hora e 45 minutos, durante os quais o paciente recebe todas as calorias de que necessita para se sustentar até a próxima sessão de alimentação.
É muito importante que com o esquema em bolus a administração dos alimentos seja rápida o suficiente para completar a sessão de alimentação no tempo esperado, mas lenta o suficiente para evitar dilatação gástrica, pois isso causaria náuseas e até vômitos.
Técnica de administração
Protocolo de administração contínua
Quando se trata de administração contínua, não há grandes desvantagens. Uma vez que o tubo tenha sido colocado e sua posição verificada pela radiologia, a permeabilidade pode ser verificada passando água, conectando a bolsa de alimentação à extremidade livre e ajustando o gotejamento.
A partir daí, resta verificar se o alimento passa pela sonda e trocar as bolsas dos preparos alimentares em intervalos regulares, tendo o cuidado de lavar a sonda com água cada vez que for trocada para evitar entupimento.
É um procedimento simples e geralmente realizado por enfermeiros, visto que, como mencionado anteriormente, esse esquema de administração costuma ser reservado para pacientes graves.
Protocolo de administração de bolus
Nos casos de administração em bolus - que costuma ser a técnica de escolha, principalmente quando o paciente tem alta - as coisas ficam um pouco complicadas. No entanto, seguindo o protocolo a seguir, você não deve ter problemas para alimentar um paciente em casa por meio de gastróclise.
- Lavar as mãos.
- Prepare os alimentos utilizando utensílios adequados para tal.
- Sirva a porção que corresponder.
- Lave a extremidade livre da sonda com água e um pano limpo.
- Usando uma seringa de 30 cc, passe água em temperatura ambiente pela sonda para verificar a permeabilidade. Se houver resistência, tente superá-la exercendo uma leve pressão; se não for possível, consulte um médico.
- Se a sonda for permeável, proceda à administração do alimento pela seringa de 30 cc, levando a porção do alimento e instilando aos poucos pela sonda.
- Repita a operação até completar a porção do alimento.
- Ao final, lave novamente a sonda com água em temperatura ambiente e seringa de 30 cc.
- O paciente deve permanecer sentado ou semissentado por pelo menos 30 minutos após a alimentação.
- Limpe a extremidade livre do tubo de alimentação para garantir que não haja resíduos de alimentos.
Complicações
As complicações da gastróclise podem ser de três tipos: as relacionadas com a colocação da sonda, as derivadas da permanência da sonda e as associadas ao processo de alimentação.
Complicações relacionadas à colocação do tubo
- Ao colocar a sonda existe o risco de lesões nas estruturas do nariz e conchas.
- O paciente pode vomitar e inspirar; portanto, é melhor realizar o procedimento com o estômago vazio.
- Pode haver um caso de caminho falso; ou seja, a sonda "atravessa" o tecido sólido durante a colocação, abrindo um novo caminho anatômico extra em vez de seguir o caminho natural.
- Embora seja raro, pode ser o caso de perfuração esofágica ou gástrica, principalmente se houver história de úlcera péptica.
- Existe o risco de o tubo atingir o trato respiratório em vez do aparelho digestivo. Nesse caso, o paciente apresentará tosse e falta de ar; entretanto, dependendo do grau de deterioração física, pode não haver manifestações clínicas.
Do exposto, conclui-se a importância da verificação por raios-X da posição da sonda. Nesse ponto, deve-se enfatizar que nenhuma substância será administrada pelo tubo de alimentação até que haja 100% de certeza de que a extremidade interna está no estômago ou duodeno.
Complicações derivadas da permanência da sonda
- O mais comum é a erosão da mucosa nasal e até mesmo da pele da asa do nariz, principalmente quando se trata de sondas permanentes e de longa duração.
- Alguns pacientes queixam-se de desconforto na garganta e até náuseas.
- O risco de obstrução está sempre presente, especialmente se a sonda não for lavada regularmente. Quando isso acontece, às vezes a única solução possível é trocar o tubo.
Complicações associadas ao processo de alimentação
- Geralmente aparecem quando há falhas na técnica de administração, principalmente uma infusão muito rápida.
- Os pacientes podem sentir náuseas, vômitos ou soluços devido à dilatação gástrica aguda. É particularmente importante observar que o vômito nesses casos é muito perigoso, pois há risco de aspiração.
- A alimentação devido à gastrocálise pode estar associada a complicações metabólicas como hipoglicemia (se a administração demorar mais do que o prescrito) e hiperglicemia (administração muito rápida ou com concentração inadequada de nutrientes, principalmente carboidratos).
- Em alguns casos, podem ocorrer diarreia e distensão abdominal, especialmente quando o tubo deve ser colocado no duodeno. Isso ocorre porque a alta carga osmótica dos alimentos induz uma diarreia do tipo osmótico.
Cuidado
Os cuidados da gastrocálise são básicos e se observados rotineiramente, todos os dias, o paciente não deve apresentar complicações. Esses cuidados incluem:
- Limpar a ponta livre da sonda antes e depois de cada alimentação ou trocar a bolsa de preparo nutricional.
- Lavagem da sonda nasogástrica com água em temperatura ambiente - Deve ser realizada antes e após cada alimentação ou troca da bolsa de preparo nutricional.
- Alterne o local de fixação da extremidade livre da sonda (para um lado, para o outro, na testa) para evitar erosão na asa do nariz.
- Mantenha a área de saída do tubo pelo nariz limpa e seca. Se necessário, curativos especiais devem ser usados para esse fim.
- Se houver resistência ao passar água ou alimentos, tente superá-la com pressão moderada; se não for fácil, consulte um médico.
- Evite puxar ou empurrar a sonda para uma posição diferente daquela em que está. Se necessário, fixe com adesivo médico para que o paciente não rasgue.
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